Numa trama digna de uma comédia, onde os protagonistas sempre metem os pés pelas mãos, o Brasil vive mais um episódio que desafia o racional e alimenta crónicas de escárnio e maldizer. Lula salva Bolsonaro?! Entenda como.

Jair, a braços com um rosário de processos e os direitos políticos suspensos, parecia estar em trajetória de isolamento político irreversível. O ex-presidente, desesperado para afirmar sua relevância e manter sua base de apoio, convoca uma manifestação, causando grande desconforto entre os seus mais fiéis aliados.

Mas, entretanto, num ato falhado digno do cinema, Lula, no alto de sua experiência e com a sagacidade que lhe é característica, decide colocar os judeus como praticantes de Holocausto. As declarações, totalmente fora de tom, provocam uma onda de repúdio quase unânime, internamente, mas também à escala global, mexendo com feridas históricas e sensibilidades profundas.

O inesperado deste episódio não reside apenas no erro cometido, mas na reviravolta que proporcionou a Bolsonaro. Quando parecia ter os dias contados, o ex-presidente encontra, nas falhas de seu adversário, um improvável oxigênio político.

A manifestação do próximo domingo, antes vista com ceticismo, ganha força e mobilização, como se Lula, involuntariamente, assumisse o papel de garoto-propaganda do movimento bolsonarista.

Há essa máxima. Nunca se interrompe um inimigo que erra. Porém, no teatro político brasileiro, as regras do jogo seguem um manual próprio, onde o improvável é a única constante e o pior cenário possível não é apenas uma opção, mas uma tendência recorrente.

Mais lamentável, além das repercussões internas, é que tais deslizes projetam uma imagem deteriorada do Brasil no exterior, reforçando estereótipos negativos e prejudicando a percepção global sobre o país.

Em meio a risadas amargas e suspiros de exasperação, resta aos brasileiros assistir, mais uma vez, ao espetáculo tragicômico da política nacional, questionando-se: até quando o país será palco desses “Lucianos” que insistem em desfilar pela Paulista e pelos corredores do poder, protagonizando cenas que oscilam entre o risível e o lamentável?

Horizontes de Negócio. Luciano Hang, cofundador da Havan, é um empresário e influenciador político conhecido por suas visões conservadoras e apoio ao livre mercado. Ganhou notoriedade em Portugal após ser visto ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa durante as celebrações da independência do Brasil, no fim do mandato de Bolsonaro.

O autor assina a coluna “Um homem de lá e de cá” quinzenalmente.