Tenho aqui escrito sobre a crise da Covid-19 e a importância de actuar em simultâneo nas diversas realidades presentes: os mecanismos de contágio e contenção; a saúde das empresas e o rendimento dos trabalhadores (englobando trabalho dependente, independente, gerentes e empresários das micro e pequenas empresas).
Por ora o foco da opinião pública incide nos mecanismos de contágio e contenção. Recolhimento social, estado de emergência, testar e isolar, tratar, tudo isto. E bem.
Mas convém manter a perspectiva de que Portugal, com a sua enorme dependência do turismo, das indústrias de acolhimento e socialização e nos serviços, muito provavelmente vai ser o país europeu mais afectado pela pandemia. Diversos estudos, aliás, corroboram este prognóstico.
O Banco Central Europeu (BCE) tem respondido de forma competente a esta crise. Porém, o programa de dívida dos Estados-membros, apesar de vultuoso, apenas dará para um par de meses de apoios à economia e às pessoas. E com a política monetária, manietada por taxas de juros nulas ou negativas, despojada de eficácia, claramente o actual rumo do BCE não vai chegar. Vamos precisar de mais. Muito mais.
Vamos precisar que a União Europeia e o BCE financiem um Rendimento Mínimo Universal (RMU). Um RMU regular, mês após mês, dirigido a todos e a cada cidadão individual, incondicional, sem qualquer requisito de rendimento ou de trabalho (conquanto possa ser objecto de tributação nos escalões superiores).
Aquilo que os economistas cunharam como o ‘helicóptero’ do dinheiro. Colocar o BCE a criar dinheiro para que cada Estado-membro o possa utilizar para manter a dignidade das pessoas, a sua capacidade de consumir e de manter a economia a funcionar.
O grande risco de não fazer voar o ‘helicóptero’ é o de termos uma enorme depressão. Algo de uma magnitude nunca vista anteriormente. Baixas taxas de juro ou compra de dívida pública (por mais massiva que seja), de pouco servirá aos trabalhadores, aos pequenos empresários e às famílias que viram os seus rendimentos diminuir brutalmente.
É tempo de olhar para o ‘helicóptero’ do dinheiro em discussão no Canadá e nos EUA. Já!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.