O hidrogénio verde tornou-se no maior protagonista numa promessa de um futuro sem emissões com efeito de estufa. Portugal posicionou-se na corrida mas os obstáculos são muitos. Entre a propaganda e a realidade, o debate na sociedade ainda não foi feito.

Em 2019, a Comissão Europeia definiu, no âmbito do Pacto Ecológico Europeu, o hidrogénio como uma das suas apostas para a descarbonização energética da União Europeia até 2050. Nesse contexto, Portugal apressou-se a entrar na corrida e apresentou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) para aceder aos fundos europeus, supostamente para fomentar a criação de emprego e contribuir para o caminho da descarbonização.

Mas a estratégia para o hidrogénio verde terá custos económicos e vários obstáculos.

A EN-H2 propõe um financiamento público de 900 milhões de euros, prevendo que a produção de hidrogénio se reparta em 2030 no consumo interno e à exportação e que seja competitivo em termos financeiros no futuro.

Aqui deparamo-nos com o primeiro obstáculo. Não existe qualquer garantia que o hidrogénio verde seja competitivo num futuro próximo. A Agência Internacional de Energia (AIE) emitiu um relatório que prevê que o hidrogénio apenas seja competitivo a partir de 2050. Isto significa, na perspectiva mais optimista, que Portugal poderá daqui a três décadas vender hidrogénio verde a preços ligeiramente mais competitivos que o hidrogénio produzido com gás natural.

Neste cenário, o megaprojeto de Sines como estandarte na estratégia do Governo soa a mais uma aposta de risco devido ao gigantesco esforço financeiro e a um retorno a longo prazo incerto.

Outro dado a ter em conta, as investigações conduzidas pelo DCIAP e pela Autoridade Tributária ao ministro Siza Vieira e ao secretário de Estado adjunto e da Energia, João Galamba. Suspeitos, alegadamente, de terem favorecido determinadas empresas no âmbito de selecção das candidaturas que integram a proposta portuguesa para apresentação em Bruxelas a fim de obterem apoios comunitários. Em particular, a suspeita do Ministério Público que o consórcio H2Sines, formado por EDP, Galp, REN, Martifer e Vestas, terá sido beneficiado. Perante a gravidade dos suspeitas levantadas por esta investigação, seria do maior interesse que o processo parasse imediatamente até ser cabalmente esclarecido.

Por último, no atual momento social e económico, com a economia paralisada, desemprego a galope, quebra do PIB superior a 12%, défice público a subir em flecha e muitos anos de recuperação pela frente, não é compreensível que o Governo continue com a estratégia do hidrogénio verde a alimentar um negócio de risco.

Analisando outras economias mais robustas de países desenvolvidos e mais empenhadas no processo de descarbonização que Portugal, é interessante constatar que nenhuma deu ao hidrogénio tanto protagonismo. As dúvidas suscitadas, custo e risco altíssimo, podem explicar essa falta de entusiasmo e investimento.

É chegado o momento de pesar na balança o que neste projecto é propaganda e negócio de risco para o país e um contributo real para a necessidade de um planeta mais verde.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.