A recente discussão em torno da Segurança Social ultrapassou todos os limites do aceitável em democracia. A pressão em torno do grupo que vai estudar a sustentabilidade da Segurança Social é absolutamente inaceitável num país que terá d enfrentar um problema grave dentro de pouco mais de uma década.

As declarações de vários deputados com expressões como “colocar a raposa no galinheiro”, “tirem as mãos das nossas contribuições”, “querem privatizar a Segurança Social”, põem a nu a total ausência de literacia financeira de grande parte da nossa classe política.

A Segurança Social tem dois problemas: uma população cada vez mais idosa e longeva. É bom viver mais, e os progressos nos próximos anos irão permitir-nos desfrutar mais tempo de vida, mas, paralelamente, há que encontrar uma solução para não condicionar as próximas gerações. Daí ser muito útil estudar que tipo de soluções podem ser adotadas, para não criar um conflito geracional.

Enfiar a cabeça na areia não é solução!

O líder do maior partido da oposição também embarcou em declarações populistas inadmissíveis e demonstrou uma falta de conhecimento financeiro inconcebível. Ao afirmar que “os descontos de quem trabalha não devem ser canalizados para o casino, para a aposta, para o jogo, como fundos de investimento…”, demonstrou uma profunda falta de conhecimento sobre economia, finanças e matemática.

Como é possível ignorar o efeito de capitalização e o juro composto nos investimentos? E misturar fundos de investimento, ou aplicação em ações ou dívida de empresas, com jogos de azar e de casino? Misturar investimento das poupanças com diversão ou vício?

O mercado de capitais, conforme os EUA nos demonstram, é a melhor forma de as empresas crescerem e serem escrutinadas, pois constitui uma alternativa ao financiamento bancário e permite que todos beneficiem da criação de riqueza.

Estas declarações impedem aquilo que é mais importante – a discussão de alternativas e tira o foco do essencial –, a saber, a insustentabilidade do atual modelo e a necessidade de encontrar soluções que não impeçam outras gerações de ter acesso a uma proteção social mínima, porque pelo atual caminho não terão nenhuma.

A hipocrisia política deve ter limites, pois ao não se discutir seriamente os problemas, a democracia fica em causa, tal como a própria Europa. Não há Bússola para a Competitividade europeia que sobreviva à ausência de educação financeira.