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Huawei: “Android é prioridade mas se não tivermos o plano A, teremos o plano B”

A marca lidera o mercado de smartphones em Portugal e nem a “guerra” tecnológica abalou esse estatuto. Quanto ao futuro, a Huawei não exclui a possibilidade de lançar um sistema operativo alternativo ao Android.
13 Julho 2019, 09h00

Com a “guerra” tecnológica em modo “pausa” e a Huawei a gozar de um adiamento da sanção decretada pelo Governo norte-americano, a multinacional chinesa está a avaliar o que podem ser os próximos meses e de que forma vai a marca gerir a relação com os parceiros.

O Governo dos EUA decretou em maio que a Huawei tem três meses para se adaptar até ficar impedida de utilizar tecnologia norte-americana, depois de ter sido colocada numa lista negra de empresas suspeitas de fazerem espionagem para o Governo chinês. Washington acusa a empresa de utilizar os seus equipamentos, em particular de tecnologia de comunicações quinta geração (5G), para aceder a informação confidencial de outros países, em colaboração com os serviços de inteligência chineses.

Com a Huawei e limpar os estilhaços que atingiram a marca há sensivelmente um mês, os responsáveis da tecnológica em Portugal quebraram o silêncio e revelaram como foi gerida a crise num mercado tão sensível como o tecnológico.

A marca que detém um terço do mercado de smartphones em Portugal e que deverá apresentar um crescimento de 25% no primeiro semestre, vive o seu melhor período de sempre. No atrativo mercado dos smartphones, a Huawei é a única marca em crescimento na China e, neste território, vende quatro vezes mais do que a Apple.

“Nada se alterou”
Tiago Flores, diretor comercial da área de consumo da Huawei Portugal, em entrevista ao Jornal Económico, começou por explicar como é que a marca viveu este período mais conturbado para a reputação da Huawei. A resposta passou por aquela que é considerada pela ‘linha da frente’ no contacto ao consumidor: “a Huawei está desde há muito tempo habituada a grandes desafios de mercado porque tem crescido muito rapidamente em todas as áreas. Este foi um desafio diferente e em primeiro lugar, focámo-nos em esclarecer todas as pessoas que estão nas lojas, porque essa é a linha da frente no primeiro contacto com o consumidor”. E quais os principais esclarecimentos prestados aos consumidores? Este responsável da Huawei esclareceu que a informação passada aos clientes e potenciais consumidores da marca baseou-se na premissa que “nada se alterou” sobretudo no que concerne àquela que é a ligação da marca ao sistema operativo Android. Nessa relação com o consumidor, Tiago Flores sublinhou que “a Huawei foi a primeira marca que há três anos, e apesar da reduzida quota de mercado na altura, abriu dois centros de serviço ao consumidor”.

“Clientes perceberam o que estava em causa”
O diretor comercial da área de consumo da Huawei Portugal explicou ao Jornal Económico como a marca explicou o conflito em que se viu envolvida em plena “guerra” tecnológica. “Realçámos que este tema não tinha nada a ver com a Huawei e que era sobretudo um tema geopolítico internacional. Os nossos clientes e os que vieram depois conseguiram perceber claramente o que estava em causa”. Nesse sentido, a Huawei publicou um compromisso ao consumidor (ver caixa) com o objetivo a sanar todas as dúvidas: “todos os equipamentos funcionam e vão continuar a funcionar assim como as aplicações e os patchs de segurança”, esclarece Tiago Flores. “Antes de qualquer outra marca”, enfatiza este responsável, “fizemos o ‘disclosure’ de qual será o nosso ‘road map’ de atualização para o novo Android Q. A Google nunca tem dados muito certos mas sabia-se que existe uma possível atualização para Android Q em meados de agosto. Dezassete equipamentos da Huawei já poderão começar a ser testados para o novo sistema.

Ao nível dos PCs, a Microsoft já assumiu que vai manter a parceria com a Huawei para que estejam disponíveis todas as atualizações Microsoft e Windows”. Relativamente aos clientes de soluções empresariais, a Huawei Portugal explica que “as preocupações foram as mesmas do que aquelas que nos chegaram relativamente ao cliente de consumo” e que essa informação foi veiculada através dos canais empresariais.

“Grande investimento” em R&D
Que repercussões pode ter esta polémica no futuro da Huawei? Tiago Flores prefere realçar que a tecnológica chinesa está sobretudo preocupada em “oferecer os equipamentos mais avançados”. E esse investimento, de acordo com este responsável, será conseguido “devido ao grande investimento em R&D (Research &Development), investimento que se cifra em 14% da nossa receita”. E quanto ao 5G, aquela que é uma das bandeiras da Huawei, Tiago Flores enfatiza a aposta com um investimento de 2 mil milhões de dólares (cerca de 1.772 milhões de euros, à taxa de câmbio atual) desde 2009.

“Android é prioridade mas há plano B”
“A Huawei investe fortemente em tecnologia, não só em hardware mas também em software”. Tiago Flores cita Ren Zhengfei, fundador executivo da marca chinesa, para dar abertura a um tema que pode ser fulcral para o futuro da Huawei: a criação de um sistema operativo próprio que possa acautelar a possibilidade da marca não poder oferecer aos seus consumidores o sistema Android. “O Android é prioridade”, sublinha Tiago Flores. No entanto, e tendo em conta a forte aposta no desenvolvimento em tecnologia, este responsável não tem dúvidas em afirmar que “estamos preparados para um plano B”. “Temos uma grande ambição em prosseguir com o nosso compromisso com os nossos consumidores e por isso, se não tivermos o plano A, teremos o plano B. Vamos continuar a investir fortemente em R&D e a prioridade é Android. Não queremos parar esse desenvolvimento e se essa evolução tiver que ser com outro sistema operativo, a Huawei vai estar preparada”.

Crescimento de 25% no primeiro semestre
Tiago Flores, diretor comercial da área de consumo da Huawei Portugal, revelou ao Jornal Económico que a marca chinesa vai acabar o primeiro semestre com um crescimento de 25% em Portugal, sendo que a Huawei continua a dominar o mercado de smartphones com um terço dos equipamentos. “Estamos a crescer mais do que o mercado e temos uma base sólida de consumidores. Mercado português reagiu muito bem ao tema na nossa perspetiva”, esclareceu. No entanto, este responsável não deixa de salientar que, em Portugal, a marca sentiu um abrandamento de vendas nas primeiras duas semanas, “relacionado sobretudo com o adiamento de compra” já que “os consumidores queriam perceber como este tema se iria desenvolver”. Tiago Flores realça que “nas duas últimas semanas, já recuperámos e as nossas estimativas é que até ao início deste julho iremos recuperar esta tendência de crescimento”.

Artigo publicado na edição nº 1995, de 28 de junho, do Jornal Económico

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