Hype é o termo em inglês que se refere a um grande entusiasmo, expectativa ou interesse excessivo por algo, especialmente por algum produto ou tendência. Esta expectativa exagerada pode ser usada de maneira crítica para descrever uma situação em que a realidade não corresponde às expectativas criadas, levando a uma deceção ou desilusão.

Tendo já entrado no léxico comum do nosso dia a dia, este termo está muito associado ao mundo da tecnologia onde a criação e aparição de novos dispositivos, gadgets e hardware desponta como cogumelos, mas está também associado a efemeridade, ou seja, a curtas durações que rapidamente são esquecidas à medida que avançamos para a próxima trend (tendência).

Qualquer destas novas ferramentas tecnológicas passa por um processo evolutivo que pode ser explicado através do Ciclo de Hype da Gartner, uma representação gráfica da maturidade, adoção e aplicação social de tecnologias específicas. É utilizado como ferramenta de referência por fornecedores de tecnologia, investidores, analistas e outros interessados, sendo atualizado regularmente para refletir o estado atual da tecnologia, fornecendo uma estrutura útil para compreender como as novas tecnologias provavelmente irão evoluir e amadurecer ao longo do tempo.

O Gartner’s Hype Cycle é um modelo que mostra o processo de evolução de uma tecnologia, desde o início (Innovation Trigger), passando pelo aumento de expectativas (Peak of Inflated Expectations), a queda de interesse (Trough of Disillusionment), evolução e maturação (Slope of Enlightenment) até a ampla adoção e utilização (Plateau of Productivity).

A evolução da sociedade está estreitamente relacionada com as tecnologias disponíveis e com a forma como estas são adotadas e utilizadas pelas pessoas. Entender como as tecnologias evoluem ao longo do tempo e como isso pode impactar a sociedade é uma forma de nos adaptarmos a ritmos de mudança cada vez mais rápidos e profundos, tendo em conta os impactos psicológicos, sociais, económicos e políticos ao longo do tempo.

A ciência psicológica está cada vez mais no centro das discussões sobre o impacto das tecnologias na sociedade. A Psicologia e os psicólogos têm uma importante função a desempenhar na compreensão e na gestão de questões relacionadas com o bem-estar, com a construção de soluções tecnológicas construídas numa lógica de melhor custo benefício, com o desenho e criação de melhores interfaces, com a promoção da saúde emocional e com a saúde digital.

Com a evolução das tecnologias, é esperado que continuem a surgir novos desafios e oportunidades, como o aumento da solidão digital, o crescimento da ansiedade e da depressão, bem como a proliferação de informações falsas na internet. É neste contexto que os psicólogos terão um papel fundamental na prevenção e na promoção de estratégias saudáveis para lidar com as tecnologias e com as mudanças sociais.

Além disso, a psicologia tem vindo a desempenhar um papel cada vez mais importante na promoção de competências digitais saudáveis, incluindo competências como o uso crítico da informação na internet, na adoção de comportamentos ciber-resilientes, no autocontrolo do uso das tecnologias, na consciencialização sobre questões de privacidade e segurança.

Os psicólogos também estão envolvidos no desenho de aplicações tecnológicas com validade ecológica, ou seja, que tenham aplicabilidade real na vida das pessoas e que sejam baseados em conhecimento científico, no desenho de arquiteturas digitais (ambientes digitais com bases de escolha não persuasivas ou manipuladoras) e na promoção de literacia digital como ferramenta essencial para uma cidadania digital que possa ser vivida com base nos valores democráticos e nos direitos humanos.

Olhando para o modelo de Gartner’s Hype Cycle, que nos mostra a curva de evolução de uma tecnologia (desde o início até a ampla adoção e utilização, passando por fases de expectativas infladas, queda de interesse, evolução e maturação), os psicólogos podem contribuir para a construção de soluções que ajudam as pessoas a protegerem-se dos riscos conhecidos das tecnologias e a beneficiarem de forma mais saudável das suas vantagens, promovendo o potencial do capital humano, num tempo de transformação digital.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.