Até ao final de 2026, todos os Estados-membros da União Europeia terão de disponibilizar aos seus cidadãos e empresas a nova Carteira de Identidade Digital Europeia (EU Digital Identity Wallet). Aprovada em 2024, a iniciativa visa facilitar a identificação digital, a assinatura eletrónica e o acesso a serviços públicos e privados dentro da UE. Mas o sucesso não dependerá apenas da tecnologia ou da ação dos governos. Dependerá também da forma como as empresas e instituições públicas se posicionam perante esta mudança.
A carteira digital permitirá a qualquer cidadão europeu, residente ou entidade legal, guardar no seu dispositivo móvel, documentos de identificação nacionais, autenticar-se online, assinar documentos digitalmente ou partilhar dados pessoais – como idade, morada ou comprovativo de habilitações – com total controlo, segurança e interoperabilidade dentro do espaço.
À primeira vista, a mudança parece técnica, mas o impacto será estrutural. Para os cidadãos, a EUDI Wallet representa uma mudança significativa na forma como interagem digitalmente. O que já se faz hoje com o cartão de cidadão ou com a Chave Móvel Digital em Portugal, passa a estar disponível em qualquer Estado-membro e terá uma abrangência maior. Uma ponte digital europeia que liga pessoas, serviços e instituições. Portugal já tem experiência em soluções digitais de identidade, mas a EUDI Wallet eleva a fasquia: será obrigatória, interoperável e cumprirá padrões europeus. Não se trata apenas de adaptar o que existe, trata-se de evoluir o atual ecossistema digital.
Para as empresas, a EUDI Wallet apresenta oportunidades e desafios. A integração desta carteira digital irá simplificar processos de autenticação de clientes, reduzir custos operacionais e melhorar a experiência do utilizador, com validade legal e reconhecimento europeu num mercado cada vez mais globalizado. No entanto, as empresas enfrentam hoje um volume significativo de exigências regulatórias desde a preparação para o cumprimento da Diretiva NIS2, à implementação do Digital Operational Resilience Act (DORA) no setor financeiro.
Com a escassez de recursos, necessidade de garantir a continuidade dos serviços e operação, integrar uma carteira digital europeia parece, à primeira vista, mais uma exigência, pois requer a adaptação dos sistemas e processos para garantir compatibilidade, conformidade com os regulamentos aplicáveis e segurança dos dados dos utilizadores. Mas, não tem de o ser.
A EUDI Wallet deve ser encarada como uma ferramenta e um acelerador estratégico. Os prestadores de serviços que se prepararem desde já poderão estar entre os primeiros a oferecer aos seus utilizadores uma experiência diferenciadora, segura e compatível com o novo quadro legal. Uma vantagem competitiva que será difícil de replicar por quem chegar tarde. Para as PME, o desafio pode ser ultrapassado pelo associativismo e, para as grandes empresas, é fundamental que estas selecionem parceiros de referência que as apoiem na definição da estratégia e na implementação de novos serviços alavancados na EUDI Wallet.
Esta é uma das iniciativas mais promissoras da década em matéria de transformação digital, mas o seu sucesso dependerá, como sempre, da capacidade de antecipação. A questão não é apenas se estaremos tecnicamente prontos em 2026. É se estaremos estrategicamente preparados para capitalizar esta transformação sem comprometer a segurança dos cidadãos.