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IFB: A regulação e supervisão a que os bancos estão sujeitos podem tornar-se numa barreira à inovação digital

Já saiu a revista InfoBanca do Instituto de Formação Bancária. O tema circula à volta da transformação digital do setor bancário. Os vários artigos de opinião abordam desafios e cautelas a ter com a inovação digital da atividade bancária.
12 Novembro 2017, 14h04

A última revista do Instituto de Formação Bancária centra-se na banca na era da digitalização.

Vasco Monteiro consultor do Centro de Assessoria Económica e Financeira da Associação Portuguesa de Bancos (APB), na área da Banca Digital e Pagamentos, escreve no seu artigo publicado no último número da revista InforBanca, do IFB, que  “a transformação digital do sector bancário enfrenta alguns desafios, designadamente de índole legislativa e regulatória”.

Diz o consultor da APB, e professor da Universidade Nova de Lisboa, que “os bancos estão empenhados em acompanhar a inovação a que assistimos na sociedade atual, mas, importa notar, que a regulação e a supervisão a que estão sujeitos podem tornar-se numa barreira a essa mesma inovação”. Além disso, diz, “a transformação digital em curso tende a expor o sector a novos riscos, que poderão afetar a estabilidade financeira, a reputação e a confiança no sector”.

“Nessa medida, importa garantir que o quadro legal e regulatório em que assenta o novo paradigma digital assegura a neutralidade tecnológica, o level playing field entre bancos e outros operadores, bem como a proteção e o reforço da segurança dos consumidores”, refere o autor do artigo que realça que a transformação digital dos bancos está a acontecer. “É importante que se continue a caminhar, a nível europeu e nacional, no sentido de assegurar a remoção de obstáculos legais e regulatórios que dificultem a digitalização da atividade bancária, e salvaguardar a criação de condições equitativas para todos os operadores no mercado”, escreve Vasco Monteiro.

O autor lembra que a Comissão Europeia apresentou, em março último, o seu “Plano de Ação para os Serviços Financeiros”, que  que tem três grandes eixos de ação: aumentar a confiança e capacitação dos consumidores, reduzir os obstáculos jurídicos e regulamentares com que se confrontam as empresas e contribuir para o desenvolvimento de um mundo digital inovador. Este
relatório irá ser votado no Parlamento Europeu em meados de novembro de 2017.

“Temos assistido ainda a uma nova tendência de legislar e monitorizar os desenvolvimentos na área das FinTech, bem como na área de sistemas de pagamentos. Adicionalmente, existiu uma iniciativa da Autoridade Bancária Europeia no que diz respeito ao uso de serviços de cloud computing pelas instituições financeiras”, explica Vasco Monteiro.

Recorde-se que em Portugal, foi efetuada uma alteração regulamentar que permite agora às instituições financeiras procederem à abertura de contas exclusivamente através de canais digitais.

Noutro artigo, de Wim Mijs, CEO da Federação Bancária Europeia, é referido que “a revolução digital trouxe muitas oportunidades para o setor bancário e seus clientes, mas também novos riscos que devemos ter em consideração. Desde a criação dos primeiros serviços bancários online que os bancos têm estado na linha da frente do combate ao cibercrime. Felizmente, não estão sozinhos nesta luta. A cibersegurança é hoje uma prioridade na agenda política europeia e mundial”. O presidente da FBE defende que “uma ação coordenada começa pela partilha de informação e transmissão de conhecimentos técnicos, dados estatísticos ou detalhes específicos sobre métodos de ataque. Podemos aprender uns com os outros e acelerar a tomada de decisões”.

Wim Mijs explica que todas as ações levadas a cabo pela Federação Europeia de Bancos “sublinham a necessidade de uma colaboração transfronteira, daí termos assinado um Memorando de Entendimento com a Agência Europeia para a Cooperação Policial, Europol”.

O futuro da banca passa ainda por “fazer coincidir as mudanças culturais necessárias com a evolução tecnológica e de negócio” quem o diz é Guilherme Martins Vitorino, professor auxiliar convidado na Nova Information Management School, no seu artigo publicado no último número da revista InforBanca, do IFB. Por isso, recomenda, “cabe assim aos líderes da banca acelerar este processo”. Isto é, criar “estruturas organizacionais ágeis e centradas nos desafios emergentes; equipas que incentivem a resolução criativa de problemas e identifiquem o potencial inovador da organização; projetos e protótipos que privilegiam a aprendizagem e que aceitam o erro como forma de atingir o sucesso; e parcerias que permitam criar um ecossistema que potencie e valorize o maior ativo da banca: a relação de parceria e confiança que os Bancos estabelecem ao longo de todo o ciclo de vida com os seus clientes”.

O professor que coordena o curso de Design Thinking da Escola Doutoral da Universidade Nova de Lisboa (e que acompanha alunos de doutoramento em processos de inovação disruptiva), defende que “para a Banca ser um sector verdadeiramente inovador e criar um ecossistema que funcione plenamente terá que, simultaneamente, olhar para dentro e construir novas pontes com múltiplos atores”.

“Porém, para estabelecer estas pontes com parceiros inovadores de alta qualidade, necessita atrair os melhores talentos” e “para a banca continuar a atrair talento é desejável incutir um espírito empreendedor na cultura bancária e criar um ecossistema de inovação que permita que os colaboradores sejam também empreendedores (intrapreneur)”, defende.

“Um intrapreneur é um colaborador que recebe autoridade e suporte para criar um projeto ou solução sem ter que se preocupar se realmente se tornará numa fonte de receita para a empresa, mas sim que traga um efeito positivo aos mais diferentes níveis (motivação, cultura, aprendizagem, relação com o cliente, marca, eficiência, processos”, contextualiza o académico.

Guilherme Martins Vitorino alerta que “vivemos pressionados por um contexto tecnológico difícil de acompanhar e um mundo que requer mais conhecimento para conseguir interpretar e identificar as verdadeiras oportunidades de criação de valor face às inúmeras tecnologias que prometem a disrupção da nossa sociedade: do big data à inteligência artificial, da realidade aumentada aos boots, do deep learning ao blockchain, das impressoras 3D aos drones”.

Qual será o modelo e o tempo certo para fazer coincidir as mudanças culturais necessárias com a evolução tecnológica e de negócio? É a questão que deixa no seu artigo intitulado  “Design Thinking: (co)Desenhar o Futuro da Banca”.

O IFB (Instituto de Formação Bancária), que tem António Neto da Silva como CEO, lançou o nº 111 da revista InforBANCA (novembro de 2017 a  fevereiro de 2018). Esta InforBanca inclui oito artigos, o Snapshot “ Sector Bancário e Empresarial em Portugal” enriquecido com a “Síntese dos Indicadores do Sector Bancário”, da responsabilidade do Centro de Assessoria Económico Financeira da APB, o Snapshot “Comercialização de Produtos e Serviços Bancários nos Canais Digitais em Portugal”, do Banco de Portugal e o testemunho da EMW na Noruega.

Os autores e os temas dos artigos são: António Neto da Silva “IFB: Rumo ao Futuro!“; Nuno Sampayo Ribeiro “Economia Reputacional: Prioridades e Desafios”; Guilherme Martins Vitorino “Design Thinking: (Co)Desenhar o Futuro da Banca”, João Amaral Tomaz ”Legal Entity Identifier (LEI): O DNA das Entidades”, Vasco Monteiro “Transformação Digital do Sector Bancário”, Wim Mijs “Os Cibercriminosos são os Ladrões de Bancos da Era Digital”; Teresa Mesquita “A Corrida contra o Tempo na Transformação Digital dos Sistemas de Pagamento”, Maria dos Anjos Ramos “A Formação dos Avaliadores do Mercado Imobiliário no Sector Bancário: breve reflexão” e Hilde Elisabeth Johansen “ European Money Week 2017 na Noruega”.

Já João Amaral Tomaz lembrou a importância do identificador LEI, que as empresas de investimento terão de obter para identificar os clientes que são pessoas coletivas, a partir de 3 de janeiro. O LEI, acrónimo do anglicismo “Legal Entity Identifier”, identifica, de forma unívoca, pessoas coletivas e outros intervenientes nos mercados financeiros, contribuindo para o aumento da transparência e da confiança. O LEI é uma ferramenta de gestão de risco de contraparte, permite mitigar práticas de abuso de mercado (manipulação de mercado e abuso de informação privilegiada), de fraude financeira, de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo. A utilidade do LEI não se restringe, contudo, às transações no mercado de capitais: o LEI é igualmente vantajoso para empresas que, por exemplo, estejam envolvidas em operações de exportação e de importação.

O Banco de Portugal fez um questionário dirigido às instituições financeiras para efetuar um primeiro levantamento sobre a digitalização dos produtos e serviços bancários de retalho em Portugal. Os resultados foram conhecidos este ano com a publicação do relatório “Comercialização de produtos e serviços bancários nos canais digitais em Portugal”.

As respostas ao questionário permitiram concluir que quase 90% das instituições financeiras inquiridas disponibilizam produtos e serviços bancários para clientes particulares no canal online. A oferta através de aplicações móveis é menos frequente, mas mais de metade das instituições financeiras já disponibiliza este canal para clientes particulares e cerca de 29% tem planos para o fazer no futuro.

As instituições financeiras revelam ter elevadas expectativas de crescimento da utilização dos canais digitais. Pois mais de 70% das instituições financeiras que disponibilizam ou pretendem disponibilizar o canal online estimam um crescimento superior a 25% dos clientes, quer  particulares quer empresariais. Por sua vez, aumentos superiores a 25% de clientes no nível de utilização do canal mobile são assinalados por 71% das instituições financeiras no segmento de clientes particulares e 57% no das empresas.

Cerca de um quarto das instituições financeiras que já têm uma elevada percentagem de utilização do canal online por clientes particulares prevêem ainda taxas de crescimento significativas para os próximos anos, acima dos 50%. Em contrapartida, o principal obstáculo identificado ao desenvolvimento dos canais digitais é a perceção dos riscos de segurança pelos clientes bancários, classificado por cerca de 80% das instituições financeiras em primeiro ou segundo lugar, em termos de relevância, de um conjunto de seis fatores.

A revista tem ainda artigos de António Neto da Silva, que escreve “IFB: Rumo ao Futuro!”, onde fala do caminho percorrido com a equipa IFB desde 10 de julho, projetando para o futuro a sua visão organizacional; de  Nuno Sampayo Ribeiro escreve sobre “Economia Reputacional: Prioridades e Desafios” onde aborda os impactos da era digital na vida das pessoas em geral, e no negócio bancário em particular, identificando o grande desafio do sector: combater a ciberignorância e ser percecionado como intermediário de confiança.

Teresa Mesquita (diretora do Departamento de Gestão de Produto da SIBS Forward Payment Solutions) escreve sobre a “A Corrida Contra o Tempo na Transformação Digital dos Sistemas de Pagamento” e destaca, de entre outros aspetos, a evolução em Portugal cada vez mais marcada na utilização de meios de pagamento eletrónico por ser um processo geracional de transformação de hábitos que se tem vindo a intensificar com os novos consumidores digitais.

Maria dos Anjos Ramos (coordenadora da Especialização em Avaliações de Engenharia na Ordem dos Engenheiros) no artigo “A Formação dos Avaliadores do Mercado Imobiliário no Sector Bancário: Breve Reflexão” sublinha as exigências, complexidades e constrangimentos desta atividade, defendendo a Formação dos profissionais como garante do rigor e reconhecimento das boas práticas. Finalmente Hilde Elisabeth Johansen (Consultora Principal da Finance Norway -FNO – e responsável pela área de educação financeira) partilha, no âmbito da divulgação dos projetos de Educação Financeira, as atividades desenvolvidas no seu país, no artigo “European Money Week in Norway 2017”.

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