Os primeiros debates políticos demonstram um completo desconhecimento de como funciona a economia e, em especial, os mercados de capitais.

Apesar de muito se apregoar o elevado crescimento económico dos últimos anos, é indiscutível que após biliões de euros despejados na economia europeia, Portugal continua a caminhar para último no ranking do crescimento europeu. Esta situação não é de admirar porque enquanto o medo for a arma utilizada para impedir o investimento no mercado, e concentrá-lo no Estado, a economia não irá aumentar o seu potencial de crescimento.

Num dos debates, foi abordada, mais especificamente, a (in)sustentabilidade da segurança social, uma eventual aplicação em bolsa de parte dos fundos, e de estes poderem ser “perdidos” num “jogo” que se chama bolsa.

O único local onde se pode “jogar” com o dinheiro é no casino, cujos prémios por acaso são tributados a taxas inferiores aos rendimentos obtidos no mercado de capitais. Mas o mais curioso é que o dinheiro da segurança social já é aplicado nos mercados financeiros, e de forma nada recomendável, pela sua concentração geográfica e de activos.

Mais de 80% do dinheiro afecto às pensões está aplicado em dívida pública portuguesa, a mesma que, por pouco, em 2012, esteve à beira do incumprimento. O critério tem sido financiar o Estado português e não gerir no melhor interesse dos futuros pensionistas.

É amiúde referido que não se pode deixar o dinheiro à mercê dos mercados ou dos gestores, e que os futuros pensionistas podem perder tudo, tal como aconteceu nos EUA ou quem investiu na bolsa portuguesa. Nada mais falacioso. É um facto que nenhum investimento é isento de risco, e isso mesmo ficou provado quando a Grécia teve de reestruturar a sua dívida. No entanto, um investimento diversificado, por activos, geografia, moeda, tendo em consideração o longo prazo, é bastante compensador. Que o diga o Banco Central da Noruega, cujas aplicações em acções rondam os 70% da sua carteira, ou a evolução  do índice mundial de acções que valorizou mais de 100% desde os máximos em 2008.

Ao insistir no medo estamos a condenar uma sociedade ao fracasso no longo prazo, à sua diluição, uma vez que estamos a fomentar o crescimento de empresas de outras geografias. Veja-se o caso das inúmeras empresas americanas que valem triliões de dólares. Isso não seria possível sem um mercado de capitais dinâmico.

Mas esta postura até se entende, se considerarmos que o Estado precisa de continuar a emitir obrigações para alimentar a irracionalidade do aumento da despesa, com gastos indiscriminados e sem ter em atenção a produtividade e a efectividade dos investimentos.

A iliteracia política contribui para não se discutirem soluções de capitalização e individualização da segurança social através da introdução de pilares, com o contributo do sistema público e do privado por forma a garantir que todos terão acesso a um valor mínimo que permita a dignidade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.