De acordo com o INE, em 2023, o número de novos imigrantes permanentes foi de 189 mil, mais 13% do que em 2022, o dobro de 2019 e cinco vezes mais do que os valores de 2015 e 2016. Em termos acumulados, entre 2015 e 2023, entraram 800 mil imigrantes, um valor similar ao de “retornados” em 1974 e 1975.

Em 2015, os estrangeiros com “estatuto legal de residente” eram 384 mil e representavam 3,7% da população total e em 2023 já eram 1,04 milhões, mais 660 mil do que oito anos antes e praticamente 10% do número de residentes. Ou seja, em 2015, tínhamos uma percentagem de imigrantes legais que era cerca de metade da média da UE (6%) e no ano passado esta percentagem já estava mais de 60% acima da média comunitária.

Em pouquíssimo tempo, passámos de uma situação de imigração reduzida para um nível muito elevado, inclusive superior ao de França. Para além disso, tem que se sublinhar que estes valores só podem pecar por defeito, por duas razões: muitos milhares terão, entretanto, conseguido naturalizar-se e deixado de ser encarados como estrangeiros; não incluem os imigrantes cuja situação não está regularizada, que será da ordem dos 400 mil.

Um aumento tão acentuado, num intervalo tão curto, tem necessariamente, as mais variadas implicações. Fixemo-nos em dois temas essenciais: a habitação e a saúde. A crise de alojamento é mais do que conhecida e escolho apenas um indicador: entre 2015 e 2023, os preços da habitação aumentaram 75% em termos reais, muitíssimo mais do que os salários.

No início de 2016, havia um milhão de utentes sem médico de família e no final de 2023 esse número tinha subido para 1,6 milhões. Alguém pode, honestamente, dizer que a degradação na habitação e na saúde não tem nada a ver com a imigração? Há, como é evidente, muitas mais razões, mas o aumento de nova população será uma explicação importante.

A explosão – muito recente – do número de imigrantes a entrar no nosso país parece ter mais a ver com restrições à entrada outros países da UE do que em condições específicas do nosso mercado de trabalho. Se os nossos salários são dos mais baixos do espaço comunitário, não teria muito mais lógico que eles tentassem outras paragens? Ainda por cima, muitos dos imigrantes vão para os sectores que pagam dos ordenados mais baixos em Portugal.

Uma coisa é haver aumento da imigração porque houve uma reflexão estratégica, consensualizada, com objectivos bem definidos. Outra coisa é ser furto de um “deixa andar” irresponsável, que começa por ser de uma enorme falta de respeito pelos próprios imigrantes. Venham para o nosso país viver 20 num quarto ou em tendas…

É necessária uma discussão nacional sobre o que queremos e que condições é realista criar para receber mais imigrantes. Podemos receber mais de cem mil por ano? Fará sentido dar preferência a quem tenha garantia de habitação, eventualmente prestada pelo empregador? E seguros de saúde? Deixo ao leitor outras questões a debater.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.