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“Imigração? Nós somos uma nação de leis”, avisa senadora republicana lusodescendente

Nas redes sociais, Jessica de la Cruz descreve-se como uma “orgulhosa filha de imigrantes” e, em entrevista à Lusa, reconheceu que a “maioria dos imigrantes é muito trabalhadora”, uma realidade que testemunhou na sua própria família. Porém, a senadora considera que os EUA enfrentam um “problema sério”.
24 Novembro 2024, 09h57

A lusodescendente e senadora republicana de Rhode Island, Jessica de la Cruz, espera que o seu partido “não desperdice a oportunidade” gerada pela vitória de Donald Trump, admitindo à Lusa ansiar pela redução governamental prometida pelo Presidente eleito.

Filha de imigrantes dos Açores e da Madeira, Jessica de la Cruz nunca pensou que a sua vida passaria pelo mundo da política norte-americana, mas, nas eleições de 05 de novembro, acabou reeleita senadora com 70% dos votos, além de ser ainda a líder da minoria republicana no senado estadual, um cargo que a tornou no “rosto” desse ‘caucus’ junto do público e da imprensa.

Em entrevista à Lusa, a senadora explicou que decidiu concorrer pelo Partido Republicano por ser aquele que mais se alinha com as suas ideologias, entre elas a de um “Governo mais pequeno”, a “proteção dos direitos constitucionais” ou ser capaz de poder “decidir como educar” os seus filhos.

Tendo em conta esses ideais, Jessica diz que foi como “música para os seus ouvidos” quando ouviu as propostas do recém-eleito Presidente, Donald Trump, para reduzir “o tamanho do Governo e da carga salarial e, consequentemente, reduzir a corrupção”.

“Acho que a minha maior preocupação é o quão grande o Governo ficou. Então, foi como música para os meus ouvidos. Adorei ouvir essa proposta de tornar o Governo menor. Temos visto tanto desperdício de dinheiro e, por isso, espero ver as coisas acontecerem para reduzir o tamanho do Governo”, defendeu.

Num olhar para os próximos quatro anos sob a liderança de Trump, Jessica de la Cruz assume “otimismo”, mas espera “que os republicanos trabalhem juntos e não desperdicem a oportunidade de promover a mudança que querem ver”, após o Partido ter conseguido não só a Presidência, mas também o controlo do Congresso federal.

Já a nível local, a senadora gosta de manter uma relação de proximidade com o eleitorado, admitindo que a sua prioridade política é sempre ouvir o que “a comunidade quer”.

Foi com essa estratégia em mente que durante o período de campanha bateu às portas dos eleitores de Rhode Island e quis saber quais os problemas que mais os afetam: “Disseram-me que ficou totalmente inacessível viver aqui, que os filhos não conseguem comprar uma casa mesmo com bons empregos, idosos disseram-me que não estão a conseguir pagar as compras, a medicação ou as contas médicas”.

Mas a senadora garante que essa proximidade com os eleitores não se ficou pelo período de campanha, tentando realizar – pelo menos uma vez por mês – a “hora do café” com os constituintes, para que possam contar-lhe aquilo que mais os preocupa.

Nas redes sociais, Jessica de la Cruz descreve-se como uma “orgulhosa filha de imigrantes” e, em entrevista à Lusa, reconheceu que a “maioria dos imigrantes é muito trabalhadora”, uma realidade que testemunhou na sua própria família.

Porém, a senadora considera que os EUA enfrentam um “problema sério”, uma vez que “não sabem quem está a cruzar a sua fronteira”, e defendeu que o país deve priorizar a ajuda aos cidadãos nacionais que mais necessitam, ao invés de canalizar recursos para os imigrantes que entram ilegalmente no país.

“Nós somos uma nação de leis. (…) Eu digo às pessoas que sou 100% a favor da imigração, desde que venham para cá da maneira certa. Nós precisamos de trabalhadores. Há indústrias nas quais é muito difícil encontrar americanos para trabalhar. Eu sei disso por experiência própria, a minha família é muito trabalhadora. A maioria dos imigrantes é. Mas temos um problema sério nos EUA, não sabemos quem está a cruzar a nossa fronteira, se há terroristas ou criminosos violentos a virem para cá. Precisamos de saber quem está no país”, advogou.

Donald Trump, que foi eleito no início do mês o 47.º Presidente norte-americano, teve como uma das suas maiores bandeiras de campanha a promessa de concretizar a “maior deportação em massa da história” de imigrantes ilegais, a quem acusou de “envenenar o sangue” dos Estados Unidos.

Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos EUA, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna referentes a 2022, o ano mais recente com dados disponíveis.

“Há uma série de razões para os republicanos dizerem que as pessoas precisam de vir legalmente. Não é que não queiramos imigrantes. Nós também somos filhos de imigrantes, mas precisamos de saber quem está aqui e precisamos de nos proteger”, defendeu a lusodescendente.

Jessica de la Cruz recordou ainda que os EUA enfrentam uma crise de escassez de habitação, além de se registar um grande de número de sem-abrigo em várias cidades do país, criticando a atribuição de abrigo a imigrantes antes de se ajudar os próprios cidadãos norte-americanos.

“Precisamos primeiro de garantir que os nossos veteranos tenham um lugar para morar, que não estejam a morar nas ruas, sem abrigo. (…) Uma vez que tenhamos isso sob controlo, então poderemos abrir as fronteiras para que as pessoas venham legalmente”, argumentou.

“Mas ter pessoas a vir para os EUA e pagar-lhes estadias em hotéis, seguro de saúde, pagar pelas compras e não fazer isso pelos americanos? Isso não faz sentido”, frisou ainda.

Além da vitória de Trump nas eleições de 05 de novembro, o Partido Republicano conseguiu o controlo do Congresso, um cenário que dará ao Presidente maior acesso a verbas federais para financiar o seu plano de deportação em massa de milhões de imigrantes indocumentados.

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