Há vários anos que vimos alertando para a necessidade de maximizar o value for money do Opex e Capex em tecnologias de informação (TI), uma vez que a parcela de tecnologia na despesa das empresas, nomeadamente em inteligência artificial (IA), só terá tendência a aumentar, se estas quiserem manter a sua competitividade.
Agora, com a guerra alfandegária, iniciada pelos EUA, este tema ganha ainda mais sentido de urgência para o tecido empresarial, com as diferentes economias a terem de escolher entre a retaliação ou a recessão. Utilizemos o framework de maximização do Value for Money das TI da Antas da Cunha Ecija para explicar este aumento dos riscos de inação.
- Solução:
A primeira análise a fazer quando se compra uma solução de TI é se a mesma é necessária. Aqui, como disse, haverá uma crescente pressão das áreas de negócio para inovar, comprando novas soluções tecnológicas. Mas quais? As conhecidas que inovam ou as de alguma start-up com menos poder negocial? Aquelas que requerem grandes modificações nas arquiteturas de TI existentes, conduzindo a despesa indireta? As que se traduzem em altos custos de manutenção futuros? As que os utilizadores nunca adotarão? Ou, simplesmente, as que se compram com ignorância de melhores alternativas? Ou as que se compram com elevados riscos de compliance (i.e., se observância do AI Act)?
Aqui, o que defendemos é que quem está constantemente no mercado, e tenha um conhecimento mais amplo da realidade, possa ajudar, pondo de acordo áreas com linguagens e interesses diferentes: negócio, TI e jurídico.
- Quantidade:
Aqui, legitimamente ou não, as empresas terão de saber como combater as zonas de conforto dos departamentos de TI. Estas zonas de conforto revestem várias “estratégias”, deliberadas ou não, de resistência à mudança: nostalgia (quando estão muito habituadas, ou até dependem de certos fornecedores), inércia (quando até mudavam, mas visualizam um indesejado trabalho extra), ou, em casos extremos, boicote (quando não querem que vejam as suas ineficiências). Mas o que é que esta aversão à mudança tem a ver com as “quantidades”? É que uma das maiores fontes de destruição de valor são as licenças de software, infraestruturas e pessoas de TI inativas! Licenças que ninguém usa ou softwares “esquecidos”, máquinas e recursos de cloud sobredimensionados e pessoas paradas. Recursos ociosos que não se querem otimizar para satisfação das tecnológicas.
- Preços:
Para além da diligência habitual que deve existir na negociação de preços, há uma expressão usada por grandes fornecedores de TI, em especial os norte-americanos, que se chama “harmonização de preços”. E em que é que esta se traduz? Os muitos utilizadores de um certo software que, em abril de 2023, subiu os seus preços 11% porque o USD tinha valorizado face ao euro sabem bem o que isso quer dizer.
Agora imaginem que a União Europeia (UE) resolve retaliar contra as taxas alfandegárias de 20% que os EUA lhe impuseram? Vamos imaginar que também impõe 20% em produtos e serviços abrangendo as TI (diga-se, de passagem, que se não fizer o risco de recessão na zona euro aumenta). Se tal acontecer, por muita “filial” de empresas de IT que os EUA tenham na UE, a “harmonização de preços” em alta deverá impor-se para as empresas europeias. E, como se costuma dizer, variações de preços afetam diretamente o bottom line das contas de resultados.
- Eficiência:
Neste capítulo o que temos de evitar é que entre as tecnologias que comprámos e o que nos custou a instalar e adotar as mesmas, se é que foram adotadas, não incorramos adicionalmente em 10%, 20%… ou até 100% ou mais do valor estimado. É que depois de fases de contratação onde o nível de vigilância e formalismo obriga a que até as comissões executivas e mesmo conselhos de administração tenham contacto direto com o processo de compra das TI, o que se segue – implementação dos projetos ou serviços – passa paras as mãos de pessoas que têm o poder invisível de fazer derrapar orçamentos ou mesmo não usar o que foi comprado.
- Qualidade:
Uma das principais métricas de qualidade das compras de TI é que as áreas de negócio consigam usar o que se comprou, extraindo-lhe o valor projetado… e que se tal não acontecer se possa usar o contrato como forma de pressionar o fornecedor de TI, incluindo com penalidades. Mas, aqui, será preciso que se tenha negociado e redigido um bom contrato, com vários Key Performance Indicators (KPI) que (mais além dos níveis de serviço e correspondentes penalidades) defendam os clientes nos cinco aspetos de otimização identificados… E, claro está, mecanismos de resolução célere de conflitos.
E o leitor? Continua convencido de que na sua empresa é diferente? De que não precisa de olhar para a contratação de serviços de TI?