Ao contrário daquilo que muitos antecipavam quando foi decretado o primeiro estado de emergência, o Instituto Nacional de Estatística (INE), no último relatório, com referência ao último trimestre de 2020, referiu que se registou um aumento de transações imobiliárias, destacando o Porto como o local onde este aumento foi mais notório.

Afirma o INE que no 4º trimestre de 2020, o preço mediano de alojamentos familiares em Portugal foi 1.188 €/m2, representando uma taxa de variação homóloga de +7,8%. Em 12 NUTS III houve uma aceleração dos preços da habitação superior à verificada no pais (+0,2 p.p.), incluindo o Algarve (+2,4 p.p.) e a Área Metropolitana do Porto (+1,0 p.p.). Ainda assim, em treze sub-regiões houve uma desaceleração dos preços, nomeadamente, na Região Autónoma da Madeira (-8,5 p.p.) e na Área Metropolitana de Lisboa (-1,0 p.p.).

Por referência aos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes, o Porto registou a maior taxa de variação homóloga (+21,2%), no 4º trimestre de 2020 (últimos 3 meses).

Importa salientar que Porto e Lisboa são referenciadas por consultoras internacionais como cidades procuradas por investidores imobiliários. É o caso da Knight Frank que, ao elaborar o Europa Cities Guide sobre as cidades europeias com maior procura no segmento de luxo, inclui aquelas juntamente com Paris, Berlim, Frankfurt, Madrid, entre outras.

Ademais, o relatório EMEA Investor Intentions Survey 2021, divulgado pela CBRE em abril, coloca Lisboa entre as 10 cidades europeias mais atrativas para investimento imobiliário em 2021, juntamente com Londres, Berlim, Frankfurt, Paris, entre outras.

Apesar das críticas, o regime fiscal dos residentes não habituais (regime aplicável a qualquer cidadão, incluindo de nacionalidade portuguesa) tem contribuído bastante para a captação de investimento imobiliário, uma vez que quem beneficia deste regime, normalmente, arrenda um imóvel, acabando por adquirir um outro imóvel (ao contrário do regime do Golden Visa, não é necessário adquirir um imóvel pelo preço mínimo de € 500.000, consoante a sua localização).

Muito se antecipou quanto a um eventual colapso do mercado imobiliário como efeito secundário da crise pandémica. Contudo, é necessário analisar o mercado por segmentos (apartamentos, moradias, escritórios, construções novas, imóveis de luxo, etc.) e não como um todo, pois os impactos da pandemia neste sector variam consoante o segmento.

Um estudo de mercado relativo ao ano de 2020 de uma imobiliária de renome, revela que, apesar da redução acentuada de visitas por força das restrições de circulação impostas pelo Governo, o segmento de apartamentos entre € 100.000 e € 300.000 verificou uma ligeira subida de preços, enquanto o segmento de apartamentos entre € 500.000 e € 1.000.000 verificou uma ligeira descida.

Ao analisarmos o segmento das moradias, as conclusões são diferentes. Enquanto neste segmento entre € 400.000 e € 900.000 verificou-se um aumento de procura superior a 20%, com uma subida de preços de 3% a 5%, no segmento entre € 900.000 e € 1.500.000 verificou-se um aumento de procura superior a 25%, com uma subida de preços de 5% a 7%.

Segundo o relatório da Casafari, o maior impacto da pandemia deverá ocorrer no mercado de arrendamento, uma vez que o trabalho remoto deverá resultar numa procura por áreas menos centrais da cidade. É referido ainda que os preços deverão manter-se estáveis, apesar da crise provocada pela pandemia.

Com a escassez de imóveis com espaço exterior nos grandes centros urbanos e com a possibilidade do teletrabalho se tornar uma realidade permanente (ainda que num sistema híbrido), será que iremos observar a uma evasão dos grandes centros urbanos como forma de mitigar o eventual impacto do fim das moratórias?