As finanças sustentáveis, onde se insere os fatores ambientais, sociais e de governação, globalmente conhecidos pela sigla ESG (designação inglesa para Environmental, Social and Governance), têm agitado e acelerado mudanças no mundo, alterações essas com importância redobrada no setor financeiro, que, por um lado, desempenha um papel fundamental na disponibilização de serviços para cobertura de diversos riscos às famílias e empresas e, por outro lado, sendo o maior investidor institucional influencia a alocação de fundos a atividades mais, ou menos, sustentáveis.

O setor financeiro engloba o efeito de dupla materialidade, no qual se destaca o impacto que a organização corporativa tem no ambiente e comunidades, mas também se destaca o impacto do seu negócio, na medida em que este se encontra exposto a ramos de atividade e a empresas de diversos setores de atividade e dos quais advêm variados riscos – deste modo, as empresas seguradoras enfrentam novos desafios, que importa reconhecer e gerir.

Após a implementação do regime de Solvência II e mais recentemente da norma contabilística de IFRS 17, surgem novos requisitos regulamentares, dos quais se destacam a Taxonomia da União Europeia e o SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation), que introduzem exigências relativas à integração de fatores de sustentabilidade no negócio, produtos e políticas de investimento, em ambos os ramos de atividade seguradora. Estes requisitos surgem no contexto de diversas iniciativas de natureza internacional, tais como o Acordo de Paris, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e a TCFD (Task Force on Climate Related Financial Disclosures), e têm vindo a robustecer-se a um ritmo acelerado, mais recentemente com a publicação da diretiva do CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) e dos respetivos normativos do ESRS (European Sustainability Reporting Standards).

Em conformidade com diretrizes e normas acima referidas, as empresas seguradoras têm vindo progressivamente a redefinir as suas estratégias e compromissos, reorientar as cadeias de valor, a integrar estes riscos, a privilegiar e redirecionar fluxos de capital para projetos e investimentos mais sustentáveis (v.g., elegíveis à luz dos critérios da Taxonomia Europeia), e a adequar a sua oferta às novas necessidades, de modo, a satisfazer a nova procura por produtos sustentáveis, em alinhamento com os critérios do SFDR. É esperado que esta integração continue a ganhar maior dimensão há medida que os requisitos prudenciais sejam consolidados, afetando diversas áreas, tais como, a oferta e subscrição de produtos, o pricing, modelos atuariais, gestão de risco e de investimento, entre outras.

O objetivo passa assim por promover uma maior transparência e uniformização do mercado, proporcionando um maior foco na sustentabilidade, permitindo uma maior comparabilidade do negócio e da oferta (em termos de características e dados relevantes, algo que tem sido um fator de preocupação) e facilitar o processo de tomada de decisão pelo cliente final. 

Estas medidas atentam a uma reforçada preocupação, sobre os riscos decorrentes dos fatores ESG, alertando para a identificação, monitorização e mitigação dos mesmos, dado que do ponto de vista ambiental, os eventos relacionados com os riscos físicos (ex. incêndios florestais ou os longos períodos de seca), têm vindo a registar um aumento das ocorrências ao longo dos anos, em particular no sul da Europa. Torna-se assim crucial a incorporação destes fatores de forma transversal nas empresas seguradoras, quer em funções técnicas (atuarial, risco e investimentos), quer no negócio. Este desafio é tão ou mais relevante num contexto em que a) este tipo de riscos apresenta, atualmente, níveis de cobertura relativamente limitados; e b) os requisitos regulamentares, designadamente a Taxonomia Europeia, incentivam – e pressionam – o setor a aumentar os níveis de cobertura dos riscos.

Já a componente social tem ganho cada vez mais relevo e importância dado que a pandemia da COVID-19 e a guerra na Ucrânia contribuíram para a intensificação de disparidades sociais, provocando a degradação das condições sociais. Com tal, as empresas têm vindo a desenvolver ações para reforço da confiança, tais como o apoio de temas como a igualdade, a diversidade, a inclusão, a aquisição e retenção de talento, destacando a sua importância.

Quanto ao Governance, apesar de em menor destaque, tem especial relevância para a integração de todos estes princípios, alteração do mindset das companhias e dos seus colaboradores, mas também para apoiar a mudança e suportar as tomadas de decisões. Já os incentivos, que incidem nesta matéria, têm vindo a ser gradualmente indexados a objetivos e indicadores de gestão ESG.

Com o aumento do número de signatários e a incorporação destes fatores nos processos de investimento, na gestão de risco e nas estruturas governação, estas temáticas ganham lugar de destaque no presente e também no futuro das empresas. Assim, as companhias de seguro terão um papel de extrema importância, ajudando outros setores a entender e agir em conformidade com todos estes princípios.