O euro passou definitivamente a valer menos que o dólar. De agora em diante as nossas importações denominadas em dólares serão mais caras, mais uma acha na fogueira da inflação, já bem quente na Europa, ajudada pelo recente anúncio da Rússia do fecho do Nordstream 1 por três dias para manutenção – as exportações russas de gás já estão reduzidas a 20% do normal, uma prenda de Putin para nos convencer a acabar com as sanções.

O preço do gás está mais uma vez a subir e, por arrastamento, o da eletricidade, que na Alemanha é sete vezes mais alto que há um ano e levando os preços na produção industrial a subir 37%, 5,3% só no último mês, os maiores aumentos que há memória. A taxa de inflação alemã pode vir a ultrapassar os 10% e atingir o valor mais elevado desde 1951. A França, que tem uma das inflações mais baixas da União Europeia (6,1%, depois dos 5,8 de junho) está mesmo assim com a taxa mais alta desde 1985.

Já no Reino Unido a inflação atingiu 10,1% em julho, o valor mais alto em 40 anos; a libra já caiu mais de 10% face dólar este ano, dadas as fracas perspetivas económica, com sucessivos trimestres de queda do Produto num clima de combate político pela liderança dos Conservadores que tem levado a promessas, designadamente de Liz Truss, de cortar impostos e fazer mais despesa – ou seja, mais défice orçamental quando o Reino Unido passou em vinte anos de uma dívida pública em percentagem do PIB de 34% para 103%.

Em conformidade, espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) volte a subir a taxa de juro em 50 pontos base na sua reunião de 8 de setembro, para combater a inflação e, já agora, a apreciação do dólar e consequente saída de capitais. O Banco de Inglaterra deverá fazer o mesmo. E o mais delicado disto é que a subida do dólar não é um fenómeno temporário – a taxa de câmbio efetiva do dólar vai num máximo de 20 anos e está para continuar.

Não é a curto prazo que a Reserva Federal americana (Fed) deixará de subir a taxa de juro, tornando o dólar mais atraente, apesar dos sinais de abrandamento de inflação nos EUA, designadamente, da descida da taxa de 9,1% em junho para 8,5% em julho.

Assim, espera-se ansiosamente o simpósio de Jackson Hole do final desta semana, organizado pela Fed e onde se ouvirá Jerome Powell, qual novo oráculo, dar sinais sobre a subida da taxa de juro americana a ser decidida na reunião do Open Market Committee de setembro, se 50 ou 75 pontos base. A tendência agressiva dos últimos meses poderá refrear se o índice de preços da despesa das famílias, que será divulgado sexta-feira, diminuir.

De qualquer forma, a taxa de juro americana continuará a subir, o que cria pressão sobre a taxa europeia, pois a tendência inflacionista é mais forte na Europa e as perspetivas para a evolução da produção e do mercado de trabalho são mais favoráveis nos EUA. Os dados estão lançados: iremos continuar a assistir ao acentuar da fraqueza do euro face ao dólar, não será o BCE que o impedirá.