Os resultados do mais recente ato eleitoral na Alemanha deixavam antever que Angela Merkel não iria ter vida fácil. De facto, a maioria relativa implicava que a CDU, que conta com uma irmã-gémea na Baviera, a CSU, encontrasse aliados governamentais entre os partidos que dispõem de capacidade de coligação. Uma lista que não incluía os dois partidos populistas: um de direita, a Alternativa para a Alemanha (AfD), e Die Linke, obviamente de esquerda.

Porém, o SPD não demorou a revelar a sua indisponibilidade para reeditar a experiência governamental anterior: a grande coligação. O abraço de urso deixou marcas profundas e, por isso, os sociais-democratas preferiram liderar a oposição na esperança de recuperarem o seu eleitorado e de se assumirem como alternativa à CDU nas próximas eleições.

Face à recusa do SPD, Merkel virou-se para o seu aliado tradicional, o Partido Democrático Liberal (FDP) que, em 2017, ao contrário do que tinha acontecido no ato eleitoral anterior, voltou a ultrapassar a cláusula-barreira, pois atingiu 10,7%. Só que, ao contrário de outros tempos, foi necessário chamar para a mesa das negociações um terceiro partido, os Verdes, de forma a assegurar a maioria no Bundestag.

Era na coligação Jamaica – preto da CDU, amarelo do FDP e verde dos Verdes – que Merkel depositava a esperança de garantir a estabilidade governamental. No entanto, as reuniões exploratórias apenas serviram para comprovar que os partidos, sobretudo o FDP, não estavam dispostos a grandes cedências nos assuntos relativamente aos quais existiam divergências.

Face ao fracasso das negociações, existem duas opções. A primeira aponta para a formação de um governo minoritário. Uma situação que forçará Merkel a negociar apoios parlamentares medida a medida. Uma instabilidade que exigirá um preço – interno e externo – muito elevado. A segunda passa pela realização de eleições antecipadas. Uma solução pouco do agrado do Presidente Frank-Walter Steimeier que, no âmbito das suas reduzidas competências, não se coíbe de apelar à responsabilidade dos partidos. Um apelo em tudo semelhante a um bradar no deserto da cultura democrática.

Afastados da discussão, mas muito atentos à mesma, os dois partidos populistas esfregam as mãos, cientes de que podem capitalizar o descontentamento dos eleitores face à incompetência patenteada pelos partidos do sistema. Por isso, a liderança da AfD, através de Alice Weidel e de Alexander Gauland, já fez saber que concorda com  eleições antecipadas e que espera vir a obter resultados ainda mais expressivos do que aqueles que permitiram aos populistas de direita, pela primeira vez depois da II Guerra Mundial, sentarem-se no Bundestag.

As vitórias de partidos populistas em quatro países da União Europeia – Syriza na Grécia, Fidesz na Hungria, Pis na Polónia e ANO na República Checa – não parecem ter servido de aviso para os partidos do sistema na Alemanha.

A democracia representativa desagradece. A fatura populista vai ser elevada.