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Impressão de dinheiro não significa inflação

É realmente importante compreender que uma economia que esteja longe do seu potencial e de um nível de pleno emprego é pouco passível de criar uma inflação sustentável e que seja capaz de perdurar no tempo.
25 Março 2021, 07h55

 

O grande aumento de estímulos fiscais e monetários que se tem observado nesta crise tem vindo a suscitar preocupações quanto ao risco de inflação. No fundo, o argumento centra-se no facto de que se a oferta monetária aumentar mais rápido do que a sua produção real então (ceteris paribus), a inflação irá ocorrer. Ou seja, se um banco central imprimir moeda, à partida as famílias terão também mais dinheiro disponível, o que irá porventura fazê-las gastar mais em consumo. Apesar de um aumento do dinheiro em circulação – a quantidade de bens não se altera – levando, por isso, a um aumento de preços.

A realidade é que desde a grande crise financeira de 2008 que nunca se imprimiu tanto dinheiro e, no entanto, a inflação tarda em chegar. A teoria quantitativa do dinheiro de Irving Fisher ajuda a compreender o porquê:

Μν = ΡΤ

Onde Μ se refere à quantidade de dinheiro existente, ν à velocidade do dinheiro (o número de vezes que o dinheiro troca de mãos) e Ρ e Τ ao nível dos preços e quantidade total de bens, respetivamente.

O que vários economistas apontam é que à medida que a oferta monetária se tem estendido (Μ), a velocidade do dinheiro tem diminuído bem como a quantidade total de bens aumentado – assim a igualdade da equação mantém-se continuando os preços dos produtos (Ρ) relativamente baixos.

 

Reserva Federal e Expectativas de Inflação

A secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, reconheceu que a inflação é um risco que se deve considerar, no entanto, referiu que passou muitos anos a estudá-la e que existem as ferramentas necessárias para lidar com uma eventual subida. No fundo, o que Yellen quis dizer é sempre muito mais difícil fazer com que a inflação suba do que fazer com que ela desça. A política monetária está sempre limitada pelo seu limite inferior (zero-lower bound) enquanto não existe limite superior na sua atuação e decisão de taxa de juro diretora.

A alteração da estratégia de política monetária da Reserva Federal também demonstra algum relaxamento relativamente ao objetivo da inflação e ajuda a prever que uma nova atuação do banco central poderá levar mais tempo do que inicialmente previsto. A mudança do target de 2,0% de inflação, para um objetivo de 2% em média é consequência de um foco maior no mercado de trabalho onde uma eventual inflação de 3% não fará com que a Fed perca o sono.

O presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, afirmou isso mesmo referindo que “a plena concretização dos benefícios de um mercado de trabalho forte irá contar com um apoio continuado, tanto da política de curto prazo como dos investimentos a longo prazo, para que todos aqueles que procurem emprego tenham as competências e oportunidades que lhes permitam contribuir e partilhar os benefícios da prosperidade”.

Embora a taxa de desemprego tenha diminuído, um grande número de pessoas abandonou o mercado de trabalho, tornando o desemprego muito mais baixo do que é na realidade. Powell refere que “a taxa de desemprego de 6,3% subestima drasticamente a verdadeira natureza do problema onde a taxa real poderá estar mais próxima dos 10%”.

Também referiu que quer evitar os erros do passado quando, durante as recuperações, se a inflação acelerasse, a Fed aumentaria os juros, sufocando assim o crescimento. Ele disse que, desta vez, a Fed será avessa a uma subida rápida e que irá permitir que a inflação exceda o objetivo por um período prolongado. O objetivo é, mais uma vez, atingir o nível de pleno emprego.

É realmente importante compreender que uma economia que esteja longe do seu potencial e de um nível de pleno emprego é pouco passível de criar uma inflação sustentável e que seja capaz de perdurar no tempo. Embora a chamada taxa de breakeven – que mede as expectativas dos investidores relativamente à inflação – tenha aumentado, a mesma permanece historicamente baixa. Além disso, o rendimento real (ajustado à inflação) das obrigações do Tesouro continua a ser negativo, sugerindo que os investidores não estão preocupados com o facto de os empréstimos governamentais acabarem com o acesso do sector privado ao crédito.

A yield das obrigações do Tesouro a 10 anos está no nível mais alto em cerca de um ano, principalmente devido às expectativas um pouco mais elevadas de inflação. No entanto, podemos concluir que os investidores esperam uma inflação mais alta, mas nem de perto ruinosa.

 

 

 

 

 

Frederico Aragão Morais
Senior Market Analyst na Qaestum Capital

 

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Qaestum Capital.

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