No fim do mês passado fui à Escócia. Como não encontrei um voo directo, viajei na mesma companhia de aviação, mas um dos troços nos dois sentidos, o mais longo, foi numa companhia operada pela companhia principal. O local de mudança de avião foi em Amsterdão com muito tempo de espera.

Na companhia subalterna, chamemos-lhe assim, podia-se escolher alguma comida moderna, desde wraps e snacks muito coloridos a umas sanduíches bastante medíocres e algumas bebidas, incluindo garrafinhas de vinho, mediante pagamento. Nada de estranho nos tempos que correm.

O mais interessante apareceu-me no aeroporto de Amesterdão, à ida. Para passar o tempo, sentei-me num café e escolhi um folhado vegetariano e uma garrafinha de vinho branco. Reparei que havia uns avisos a dizer que todas as compras que requeressem artigos em plástico eram sujeitas a uma taxa de  0,20 cêntimos. Paguei e tirei um copo para beber o vinho. Pedi o recibo e fui sentar-me. Olhei distraidamente para o mesmo e notei a quantia de 0,20 cêntimos. O que seria? Ah, o copo! Então como é que eu bebia o vinho? Da garrafa? Se o fizesse, mães passantes fugiriam com os seus filhos a dizer nas suas respectivas línguas: “O Senhor é um bêbedo, anda embora.”

Toda a gente iria olhar para mim e sabe-se lá se a Polícia não interviria… Curiosamente, no fim, fui beber um café e deram-me um copo de papel grosso sem ter de pagar nada, só que estes copos têm um revestimento a plástico! Vivemos num mundo de ilusão, de mentira e sobretudo de ganância e de lucro desenfreados.

De Amesterdão para a Escócia, na companhia-mãe, outra surpresa, esta agradável. Viajando na classe económica ou em economia, textualmente a tradução de economy, e tratando-se de um voo de uma hora e um quarto, eis que fico surpreendido quando passado um quarto de hora da descolagem, vem da frente da cabine um trolley com duas hospedeiras e serviço (grátis). Sanduíches muitos boas, refrescos e vinho! Hoje-em-dia…!

A estadia ou estada, como alguns preferem, na Escócia passou-se muito bem. Fui levantar o meu kilt, já encomendado, provei-o e estava pronto para o casamento de um sobrinho, da parte da minha família escocesa. Diga-se de passagem que gostei de me ver de kilt. Dei uma volta com a família à ilha de Bute, que aconselho muito.      

Depois de uma dezena de dias, o regresso. O mesmo bom acolhimento na companhia-mãe e, depois, para fazer horas na vinda, em Amesterdão, e porque mais tarde estava com fome, escolhi um café (bar, snack-bar, género de Le pain quotidien, em muito sujo), que já conhecia do passado mas que estava degradado. Sanduíches, croissants, wraps, tabuleiros plastificados com sushi, tudo caríssimo, e mesas cheias de migalhas e de gordura seca. Empregados de limpeza, só um ao longe num sítio que é enorme.

E isto se pensarmos que, na aparência, vivemos num mundo de quase paranoia pela limpeza, em que tropeçamos a cada momento com os esfregões das senhoras da limpeza. Deve haver um critério nas limpezas actualmente: chão e WC, sim, mesas, não. Pré-pagamento, é claro. Bichas grandes e apenas um empregado, aliás eficiente, diga-se de passagem.

E, finalmente, o último troço da viagem num avião cheio de jovens que voltavam de um campeonato de futebol de salão e de peregrinos brasileiros. Cheguei cansado, mas com a cabeça sempre a funcionar. Aquele episódio dos copos que se pagavam, treta, evidentemente, porque havia imensos produtos plastificados, levou-me para uma ideia que, oxalá, nunca seja posta em práctica, mas, agora, com os copos…

Já há uns anos pensei que, com esta ganância desenfreada, e maldosa, do lucro, baseada numa grande mentira, os restaurantes começavam a pedir aos clientes que pagassem extra nota-de-despesa um suplemento pelos pratos, talheres e copos, baseando a sua ousadia no ambiente: as máquinas de lavar gastam energia.

Bom, aqui temos duas coisas: ou se come o arroz, de marisco, por exemplo, com a mão e directamente da mesa e  a garrafa de vinho circula de boca a boca (a sopa, não sei) – porque as pessoas podem recusar-se a pagar a taxa – ou pagam contrariadas ou não contrariadas, que será a maior parte e aqui está o perigo. “Acho muito bem, temos de salvar o planeta!” Mas não pensam nos bolsos do dono do restaurante, nem na energia das suas máquinas em casa. Está quase tudo lavado cerebralmente.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.