A EDP Energias de Portugal tem uma forte posição de liquidez, resultante de uma política de financiamento prudente, e que permite manter a estabilidade na distribuição de dividendos, mesmo em alturas de crise como a atual, afirmou ontem António Mexia, CEO da empresa.
“Se a EDP tem capacidade para distribuir dividendos é porque fez o trabalho de casa, nomeadamente com a política de financiamento prudente”, referiu, em conferência de imprensa após a Assembleia Geral, na qual os acionistas aprovaram a proposta de pagamento de um dividendo de 0,19 euros por ação relativos a 2019, com 99,13% dos votos.
No total, a empresa vai pagar 694,74 milhões de euros, um valor que tinha sido criticado pelo Bloco de Esquerda como excessivo numa altura de crise e a razão pela qual muitas cotadas estão a cancelar, cortar ou adiar a remuneração acionista.
Questionado sobre a decisão de manter o dividendo neste contexto, Mexia rejeitou a ideia de esse ser o caso no setor da energia. “A grande maioria das empresas do setor mantiveram e muitas vezes até com fortes crescimentos, nós ficamos no floor, pelo menos ao nível dos últimos quatro anos”, disse. “A maior parte das empresas não só cumpriu a sua política como aumentou, coisa que não aconteceu na EDP”.
Segundo a estratégia anunciada em março de 2019, a empresa pretende pagar pelo menos 0,19 cêntimos por ação por ano até 2022. Face ao resultado líquido de 512 milhões de euros em 2019, o dividend payout, rácio do total dos dividendos pago face ao resultado, foi de 136%.
A pressão para cortar os dividendos tem sido exercida por atores políticos e em relação ao setor da energia, e o Bloco de Esquerda tem sido a voz mais crítica. Após ter apontado o dedo à proposta do board da EDP de dividendos num valor superior ao lucro de 2019, a coordenadora, Catarina Martins, sublinhou que os quase 700 milhões de euros a distribuir equivalem a dez anos de tarifa social energética disponibilizada pela empresa.
Mexia sublinhou durante a conferência de imprensa que “os dividendos da EDP são sustentados exclusivamente pela atividade internacional”, dado que a atividade em Portugal registou prejuízos nos últimos dois, muito por culpa de pressão regulatória, segundo a empresa. “Se dependesse de Portugal, a proposta dos dividendos seria muito diferente, provavelmente zero”, sublinhou.
O CEO quis, no entanto, salientar também o compromisso que a EDP tem com o país: “Em Portugal estamos a falar de 3.500 milhões até 2022 em Capex e Opex, com a viabilização de seis mil postos de trabalho, assumindo um papel decisivo no que acreditamos que é o rearranque da economia, em que o Green Deal é decisivo”.
A palavra compromisso foi também empregue por Mexia diversas vezes, relacionado com vários stakeholders, incluindo investidores e trabalhadores.
“A decisão de hoje foi dos acionistas porque eles são soberanos, mas foi com base numa proposta alinhada com as indicações da CMVM”, disse, adiantando que o plano de negócios prevê equilíbrio sustentável entre crescimento, desalavancagem e reforço de balanço e remuneração acionista. “A disponibilidade de capital, em segundo, pois temos uma forte liquidez de praticamente 7 mil milhões de euros”, um valor que deixa a elétrica financiada por quase dois anos. “Por isso temos esta capacidade de propor dividendos que os acionistas decidem, e prende-se com uma política de financiamento prudente, rotação de ativos e exclusivamente com este crescimento internacional”.
A terceira condição é o escrutínio feito em companhias como a EDP. “Somos uma de duas únicas que são grau de investimento no PSI 20”, recordou, explicando que a EDP tem mais de 100 mil acionistas que investiram, direta ou indiretamente, na empresa. “Parece-nos absolutamente fundamental manter esse nível de confiança, compromisso e liquidez na economia”, disse, explicando ainda que o total dos dividendo “está em linha com o que foi pago aos colaboradores”.
Artigo publicado na edição nº2037, de 17 de abril, do Jornal Económico
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