A 17 de abril passado assinalou-se o centenário do nascimento de Francisco Pereira de Moura — um grande Homem, um grande Economista, um grande Professor. Um cidadão de referência.

Há precisamente um ano, em artigo evocativo do cinquentenário do 25 de abril, neste mesmo Jornal, e ainda no quadro das comemorações dos 25 anos da criação da Ordem dos Economistas, prestamos homenagem a este insigne português, na sequência do conhecimento de uma carta que o Prof. Pereira de Moura, na qualidade de membro do Colégio Eleitoral do Presidente da República, enviara aos restantes membros, dez dias antes da eleição, marcada para 25 de julho de 1965. Uma carta notável e corajosa, lamentavelmente, pouco ou nada conhecida, onde eram discutidas as questões relevantes da sociedade portuguesa de então, desde a legitimidade do sufrágio indireto, à guerra colonial, passando pelas questões económicas e a liberdade política do País.

Francisco Pereira de Moura influenciou as ideias desenvolvimentistas e de abertura económica à Europa que se afirmaram nas décadas de 60 e 70 do século passado e que tiveram materialização nos chamados Planos de Fomento, sobretudo a partir do II Plano (1959-1964), contexto em que se produzem as adesões à EFTA, como membro fundador (1960), ao Banco Mundial e ao FMI (1962) e ao Protocolo do GATT (1962). Uma rotura que seria aprofundada, no Plano Intercalar de Fomento (1965-1967), com o fim do condicionamento industrial e no III Plano de Fomento (1968-1973).

No plano académico, foi pioneiro e grande impulsionador do estudo e investigação da moderna macroeconomia em Portugal, ficando bem conhecidos os seus manuais “Lições de Economia” (1961) e “Análise Económica da Conjuntura” (1969), que se afirmariam como referência maior da formação de várias gerações de Economistas.

No contexto atual, em que se discutem as respostas a dar aos desafios colocados pela subversão radical da Ordem Económica Internacional, à redução de dependências e vulnerabilidades económicas, incluindo o retorno às políticas de industrialização, seria importante reler os trabalhos do Prof. Pereira de Moura.

Desde logo, os estudos sobre a industrialização da economia portuguesa, promovidos e realizados, no âmbito II Congresso da Indústria Portuguesa, de 1957, de que foi Secretário-Geral, e do Centro de Estudos de Economia Aplicada da Associação Industrial Portuguesa, de que foi fundador, consultor e diretor entre 1959 e 1967. Estudos que estiveram na base da sua tese de doutoramento Localização das indústrias e desenvolvimento económico (1960), que abriu, também, para a consideração da importância da economia regional, nas vertentes micro e macro, como disciplina de estudo académico e no desenho da política económica.

Mas, também, outros estudos posteriores, como Problemas fundamentais da economia portuguesa (1962) e Planeamento industrial e desenvolvimento regional (1967), culminando com o notável ensaio Por onde vai a economia portuguesa (1969), que influenciou fortemente o pensamento económico da época, contribuindo decisivamente para a mudança cultural que iria conduzir ao 25 de abril de 1974.

Entre as evocações da sua memória que não deixarão de ser feitas, no ISEG — a sua Escola de sempre — e pela Ordem dos Economistas em que será homenageado como Economista Emérito, a título póstumo, não se poderá deixar de relevar a sua postura como professor que, para utilizar as suas próprias palavras, se entregava à exigente missão de “ensinar a aprender”. Nos tempos que atravessamos, de mudança profunda e de exigência acrescida, seria bom não esquecer esta referência.