O colapso da Inapa poderá, provavelmente, explicar-se por vários erros de gestão ao longo de anos (como a compra de uma empresa na Alemanha), aliados à subida dos juros e ao tremendo desafio trazido pela redução do consumo de papel. Até aqui, a maioria dos analistas estará de acordo. Mas o golpe de misericórdia na empresa foi dado pela Parpública, a sua maior acionista, que não esteve disponível para injetar dinheiro na empresa num momento de dificuldade.
Aqui chegados, há várias questões que deveriam ser esclarecidas.
Em primeiro lugar, a decisão de recusar uma injeção de dinheiro dos contribuintes em empresas em dificuldades, ditas estratégicas, é inteiramente legítima. E, tendo em conta o histórico das últimas décadas, parece ser uma decisão acertada.
No entanto, se a Parpública não estava disponível para viabilizar a Inapa – sabendo nós que os primeiros pedidos de capitalização datam de 2020 – porque manteve a participação na empresa durante estes anos? Se a Parpública não tem por vocação ser acionista da Inapa, com tudo o que isso acarreta, nomeadamente injetar dinheiro em momentos menos bons, porque permaneceu no seu capital até agora? Será que procurou encontrar uma solução acionista alternativa, tentando vender a participação a privados, tendo em conta que ainda em 2022 a Inapa teve lucros recorde de 17,8 milhões de euros e continuam a existir potenciais interessados na sua aquisição?
Mais, será que o interesse público ficou assegurado por essa forma de atuar da sua maior acionista? Poderia ser preferível injetar 12 milhões de euros na empresa e criar condições para que a participação do Estado pudesse ser privatizada, à semelhança do que está a ser preparado na TAP e no autódromo do Estoril?
Em suma, seria importante esclarecer estas e outras questões para que as coisas façam sentido, sobretudo para os investidores particulares que são detentores de ações e de dívida da Inapa e que não entendem por que razão o Estado – que de facto, provavelmente, não tem vocação para ser dono de empresas de distribuição de papel – não só não foi solução, como também não parece ter contribuído ativamente para que existisse alguma.