Que existe na imprensa portuguesa uma inclinação à esquerda em aspectos económicos é óbvio. Para o comprovar, basta pensar em como foram comemoradas as sucessivas baixas da Euribor (positivas para o herói da esquerda, o consumista endividado) e como nunca foi relembrado como isso era mau para o herói económico da direita política: o consumidor temperado e aforrador.
Na Economia política, essa inclinação é também muito forte. Um pensador contemporâneo resumiu muito bem que a primeira lei da economia é que há escassez, ao passo que a primeira lei da economia política é esquecer a primeira lei da economia. E para confirmar essa inclinação, todos os dias leio “peritos” e “jornalistas” a pedirem “investimento público” (na verdade, esbanjamento estatal) nas áreas mais diversas. Áreas em que os privados não investem por não haver rentabilidade possível do “investimento”, mas que são apresentados em artigos jornalísticos como óbvios e urgentes.
Mas essa inclinação é mais forte no campo político puro. Para começar, toda a direita é apresentada como um bloco monolítico, desde ultra-liberais a Hayek, de Friedman a Passos Coelho, de Trump a Le Pen, e de Reagan a Nixon. São todos uns nazis que defendem tudo o que é mau. Simultaneamente ultra-liberais e ultra-estatistas, ultra-globalizadores e ultra-nacionalistas. Quando me identifico como de direita, nunca sei se vou ser chamado de ultra-neoliberal(?) ou de fascista(!).
Recentemente, Trump foi saudado por uns lunáticos com a saudação nazi: prova provada de como Trump é Hitler e de que todos os que não o denunciam em tudo o que escrevem são Nazis. No dia seguinte, Trump promete cortar alguma despesa: imediatamente surgem artigos em como Trump é Hayek e que todos os que não se afastam dele são inimigos de morte dos funcionários públicos a nível mundial. Ser de direita é ser alvo. Depois escolhe-se a crítica à medida do que vai aparecendo.
Contrariamente, na esquerda a diversidade é total. Costa pode ser suportado por um partido que quer tornar Portugal na Venezuela e por outro que nem sequer aceita repudiar os crimes hediondos que estão hoje mesmo a ser praticados pelo regime norte-coreano, que só tem de responder pelos seus erros. Sócrates ter tido como parceiros internacionais Chávez, Kadafi e os Al Thani (Qatar) nunca o fragilizou. Hillary ter como principais financiadores Wall Street, o complexo militar americano, os Al Thani e os Saud (Arábia Saudita), em Portugal nunca foi visto como um problema. O que une a esquerda é apenas o “virtue signalling”, algo como sinalização de virtudes, tudo o resto é variável conforme o que dá jeito no momento e, como nem deveria ser necessário escrever, o erro de um simpatizante ou mesmo dirigente não mancha todos os outros.
Nos dias de hoje, no espaço mediático, o campo está inclinado. Admitir ser de direita é um acto de coragem, a que nem todos têm predisposição para se submeter. Assim, a maioria é silenciosa e silenciada. Talvez haja mais surpresas em 2017. E, como a direita não é monolítica, talvez algumas que eu não vá celebrar. Chocante, eu sei.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.