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Indústria automóvel em crise afunda maior economia europeia

Os três pilares da indústria automóvel germânica – BMW, Mercedes e Volkswagen – enfrentam grandes desafios nos próximos tempos, a começar nos preços elevados da energia e a terminar nos desafios nos mercados da China e dos EUA, com as tarifas pelo meio, a concorrência da Tesla e das marcas chinesas, e o vai-não-vai do carro elétrico.
epa11908228 ATTENTION EDITORS – EMBARGOED FOR PUBLICATION UNTIL 19 FEBRUARY 2025 AT 20:15 CET German Chancellor Olaf Scholz (L) of the Social Democratic Party (SPD) and his conservative rival, Leader of the Christian Democratic Union (CDU) Friedrich Merz (R) are pictured in a WELT TV studio ahead of a TV debate prior to early federal elections in Berlin, Germany, 19 February 2025. EPA/FABRIZIO BENSCH / POOL
24 Fevereiro 2025, 07h00

O sector automóvel alemão vive uma crise profunda. As vendas afundam, enquanto os custos de produção disparam.

As joias da coroa BMW, Volkswagen e Mercedes-Benz esperam uma lufada de ar fresco com o novo Governo alemão, num momento em que as tarifas de Donald Trump ameaçam afundar ainda mais o sector automóvel germânico.

O sector pesa 5% na maior economia europeia, empregando quase 780 mil trabalhadores.

Neste cenário, a maior economia europeia encontra-se completamente estagnada, com duas contrações consecutivas em 2023 e 2024: -0,3% e -0,2%, respetivamente, confirmando a maior crise do país em mais de duas décadas.

A exportação é essencial para o sector: três em quatro automóveis são vendidos para o estrangeiro.

O sentimento de confiança no sector atingiu um novo mínimo em janeiro, com as companhias a enfrentar inúmeros desafios.

As dificuldades nos mercados estrangeiros, mas também no interno, foram as preocupações expressas no inquérito do IFO Institute.

Mas as tarifas de Donald Trump não ameaçam somente as vendas das fábricas alemãs: o presidente norte-americano ameaça impor tarifas ao Canadá, México e à União Europeia, regiões onde as três grandes marcas alemãs têm fábricas.

Trump já ameaçou com tarifas de 25% sobre os automóveis.

“Precisamos de uma reviravolta económica agora”, disse Ildegard Muller, presidente da associação automóvel alemã (VDA) à “Bloomberg”, defendendo menos burocracia e mais apoio ao investimento para tornar o país novamente competitivo.

O mercado norte-americano é bastante lucrativo para as marcas alemãs: tem um enorme apetite por grandes SUV, a preços mais elevados e com maiores margens.

Estas empresas contam com fábricas nos EUA para o mercado interno e externo, e a adoção de medidas de retaliação por parte da União Europeia pode vir a penalizá-las duplamente.

“A Europa vai retaliar”, concluiu Benedicte Lowe, da BNP Paribas.

Outra questão que afronta o sector automóvel alemão são os custos elevados de produção.

Os preços da energia dispararam desde a invasão russa da Ucrânia, marcando o fim do gás natural barato, crucial para alimentar as fábricas, mas também para produzir eletricidade para empresas e famílias.

Os preços da eletricidade na Alemanha são três vezes mais caros do que nos EUA ou na China, e 40% acima do registado em França, que depende da energia nuclear.

Os custos da energia foram um dos grandes temas da campanha, com os principais partidos a prometerem cortes.

Friedrich Merz, da CDU, defende o regresso à energia nuclear, com Olaf Scholz, do SPD, a defender mais renováveis e menos portagens nas redes elétricas.

“A Alemanha é uma das últimas nações europeias verdadeiramente industrializadas, com a Salzgitter e a BASF a fornecerem aço e químicos à indústria automóvel do país. Ter custos baixos de energia, ou estabilidade de preços, é crucial”, disse à “Bloomberg” Matthias Schmidt, analista do sector automóvel.

Outra questão é a perigosa dependência, na opinião do sector, do mercado chinês.

A China é o maior mercado para a maioria dos produtores alemães, contribuindo com muitas receitas e lucros para o sector.

No entanto, a crescente concorrência chinesa, como a da BYD, que tem provocado uma guerra de preços, onde a Tesla também participa, tem complicado o cenário.

A redução dos gastos em carros premium também tem vindo a complicar as contas dos produtores alemães.

Tanto Scholz como Merz têm alertado os produtores para os riscos de investimento neste mercado, mas o apelo do lucro tem sido maior.

A Volkswagen conta com 12 fábricas na China e tem planos para aumentar as vendas para 4 milhões de unidades em 2030, dos menos de 3 milhões em 2024.

Já a BMW planeia investir mais de 2,5 mil milhões de dólares na sua fábrica de Shenyang para aumentar a produção de carros elétricos.

Por outro lado, o mercado alemão de veículos elétricos tem vindo a abrandar, perdendo a liderança europeia para o mercado britânico.

Olaf Scholz tomou a decisão polémica de remover os cheques de apoio à compra de carros elétricos. Resultado? Volkswagen e Mercedes têm vindo a alterar a sua estratégia perante o afundar do mercado interno.

Só a Porsche vai levar um rombo de 800 milhões de euros este ano para expandir o seu portefólio com mais modelos térmicos e híbridos.

As vendas caíram 28% na China perante o aumento da oferta de carros elétricos.

“A mudança estratégica da Porsche é uma mensagem clara de que os carros alemães a gasolina podem ter uma vida mais longa; espero que o governo de Merz apoie”, disse Matthias Schmidt.

Os conservadores da CDU defendem o fim da proibição de carros térmicos a partir de 2035.

Em relação à burocracia, a VDA tem defendido licenciamentos mais rápidos, menos pedidos de documentação e que Bruxelas não coloque mais entraves burocráticos.

“A Alemanha precisa de estímulo, mas a questão é: vai haver dinheiro suficiente no orçamento? Não teria tanta certeza”, afirmou Matthias Schmidt.

“A economia tem estado debaixo de muita pressão que estava escondida pela pandemia e depois pela guerra. A pressão voltou e as pessoas estão muito preocupadas”, disse ao “Politico” Nils Redeker, do think-tank Jacques Delors em Berlim.

Uma “relação tóxica”: é assim que o “Politico” descreve os lucros das produtoras automóveis alemãs na China, que ajudaram a suportar os elevados salários na Alemanha.

Em 2018, o cenário começou a mudar, com o mercado chinês a contrair-se pela primeira vez desde 1990.

Em 2024, as vendas da BMW afundaram 13% na China, as da Mercedes caíram 7%, e as da Volkswagen desceram 10%.

“Era tão bom na China para os produtores alemães que, apesar dos problemas que têm agora, ainda estão a tentar viver a magia das últimas décadas”, segundo Noah Barkin, da consultora Rhodium.

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