Um novo estudo publicado pela Bain & Company revela que a indústria da reciclagem química já vale mais de 400 mil milhões de euros em investimentos acumulados (Capex) e que precisará de 20 a 30 anos para conseguir competir em custo com a produção de plásticos virgens, na Europa. No entanto, alcançar essa paridade, exige, num cenário base, um investimento global acumulado de pelo menos 400 mil milhões de euros num cenário-base, com um custo adicional de aproximadamente 270 mil milhões de euros.
Esse valor adicional inclui a soma dos prémios de preço que seriam pagos pelos clientes, mecanismos regulatórios e investimentos em margem por parte da cadeia de valor, explica a consultora.
Apesar dos compromissos ambientais iminentes e dos objetivos ambiciosos das empresas, a reciclagem química na Europa continua a ser pouco significativa, principalmente devido a uma economia pouco atrativa. No entanto, o estudo sugere que empresas do setor dos plásticos podem ter aqui uma oportunidade de rentabilidade a longo-prazo.
Nesse sentido, a Bain & Company deixa o alerta aos produtores de plástico dizendo que “as empresas de plástico devem agir agora ou perdem a oportunidade”.
“A reciclagem de poliolefinas – um tipo comum de termoplásticos – na Europa custa atualmente mais do dobro da produção de poliolefinas virgens. O mercado, por si só, não é suficiente para impulsionar a mudança, uma vez que a procura dos clientes é altamente sensível ao preço e os volumes são demasiado limitados para gerar benefícios substanciais em termos de custos”, lê-se no comunicado.
A análise da Bain revela que “a reciclagem química pode tornar-se competitiva em relação à produção virgem assim que o volume global acumulado atinja 650 milhões de toneladas métricas de poliolefinas recicladas através da pirólise, assumindo um preço da virgem de 1.250 euros por tonelada métrica e dependendo das taxas de entrada e das condições gerais do mercado”.
“Este processo pode levar pelo menos 20 a 30 anos e, nessa altura, o plástico reciclado deverá representar cerca de 20-30% da procura total de plástico”, afirma Álvaro Pires, sócio da Bain & Company. “A questão já não é se a reciclagem química vai escalar, é quem estará na dianteira da cadeia de produção no momento-chave”, destaca.
A longo-prazo, o avanço das tecnologias e a experiência operacional acumulada vão permitir obter ganhos de eficiência em termos de custos, acabando por reduzir a diferença em relação aos plásticos virgens. A indústria está a desenvolver tecnologias em todo o processo de reciclagem, desde a triagem dos resíduos até ao seu pré-tratamento.
A Bain & Company destaca o papel das políticas públicas na aceleração da reciclagem química. “As políticas podem desempenhar um papel importante para colmatar o défice entre a oferta e a procura. À semelhança dos regulamentos relativos ao gasóleo sustentável e ao combustível para aviação, as empresas europeias de plásticos poderiam começar por reduzir e aumentar gradualmente os requisitos de mistura de materiais reciclados”, segundo o relatório.
Por exemplo, diz a Bain, “a imposição de requisitos de mistura a nível nacional ou regional que aumentem a penetração no mercado da reciclagem química em 1-2% por ano pode desbloquear uma quota de mais de 15% no mercado dos plásticos até 2040. Tal pode garantir um aumento gradual com necessidades de capital viáveis, retornos positivos e uma erosão mínima das margens”.
“A mudança de rumo exige uma abordagem sistémica com apoio regulatório. Assim que a reciclagem química atinja larga escala, pode fazer a transição de um modelo dependente de subsídios para um impulsionado pela procura. Esse ponto de inflexão pode mudar totalmente a lógica económica, transformando a reciclagem química numa solução competitiva e
orientada pelo mercado”, diz Álvaro Pires, sócio e responsável da área de “Produtos Químicos” da Bain & Company.
O estudo remete para três estratégias para que os produtores de plásticos se tornem líderes em reciclagem química.
Em primeiro lugar, “as empresas precisam de cocriar proativamente oportunidades de compra em estreita colaboração com os parceiros da cadeia de valor, enquanto se posicionam para obter vantagens a longo-prazo. As empresas pioneiras podem obter fluxos de resíduos de qualidade superior e servir clientes de elevado valor, criando um ciclo virtuoso de escala e desempenho”.
Depois, as empresas líderes “devem colaborar ativamente com os reguladores nas ações políticas que são críticas para os seus negócios e ajudar a materializá-las”, defende a Bain & Company.
“É igualmente importante reenquadrar o diálogo público e a percepção em torno do papel dos plásticos, realçando tanto os benefícios de desempenho como o potencial de sustentabilidade dos plásticos quando geridos de forma responsável”, acrescenta.
Por último, “os produtores devem estar dispostos a ser flexíveis e a reformular a sua forma de atuar”, defende a consultora. “Os líderes experimentarão novos modelos de negócio, novas estratégias de abastecimento e parcerias não convencionais. Isto pode significar a celebração de acordos de compra de 10 anos com mecanismos de preços dinâmicos – o tipo de movimentos que podem ser invisíveis do exterior, mas que lançam as bases para uma vantagem futura”, conclui.
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