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INEM: Mais de mil pessoas pediram ajudam em 2020 após morte de familiar

Mais de mil pessoas que viveram situações de morte inesperada ou traumática de um familiar procuraram ajuda em 2020 junto do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM, quase o dobro do ano anterior.
6 Março 2021, 14h15

Num ano marcado pela pandemia de covid-19, os psicólogos do INEM receberam 20.704 chamadas relacionadas com alterações comportamentais/estado emocional, comportamentos suicidários, comportamentos homicidas, violência interpessoal, situação social e incidentes críticos.

Em 2019 foram 20.104 as chamadas para o CAPIC, tendo os psicólogos atuado quer ao nível do aconselhamento, na estabilização emocional, no aconselhamento na notificação de morte, no apoio ao início do processo de luto, na negociação da aceitação de ajuda, na negociação em suicídio e na ativação da rede social.

A procura de ajuda face a uma morte inesperada de um familiar enquadra-se na categoria incidente crítico.

Em 2020 o CAPIC recebeu 1.220 pedidos de ajuda perante a morte inesperada de um familiar quando em 2019 foram 748 as pessoas que solicitaram acompanhamento pela mesma razão.

E entre janeiro e fevereiro deste ano, quando Portugal vivia a terceira vaga da pandemia batendo todos os máximos de casos, mortes e internamentos, 244 pessoas recorreram à linha pelo mesmo motivo. Em 2020 o serviço recebeu 124 de pedidos de ajuda face à morte inesperada de um familiar.

Segundo dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), no mês de janeiro foram registados mais de metade do total de óbitos que ocorreram no domicílio desde o início da pandemia.

Sónia Cunha, responsável do CAPIC, explicou em declarações à agência Lusa que em 2020 estas situações foram particularmente sentidas no último trimestre de 2020, período em que foi visível um aumento de situações de morte relacionadas com a covid-19, mas também com doenças crónicas.

Ao nível da alteração comportamental/estado emocional, foi também registado um aumento de chamadas relacionadas com esta ocorrência, tendo o centro recebido 4.066 pedidos de ajuda, mais 846 do que em 2019.

Dentro desta categoria, segundo os dados estatísticos do CAPIC, estão 1.331 casos de psicopatologia agudizada (mais 305), 1.291 de crise de ansiedade (mais 207), 110 de ataques de pânico (mais 15), 509 de perda de controlo emocional (mais 121) e 460 de situações de agressividade (mais 130).

Já no que respeita a comportamentos suicidários, o Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise registou também em 2020 um aumento face a 2019.

Foram registadas 748 chamadas de tentativa de suicídio (mais 148 face a 2019), 1.110 de intenção suicida (mais 335) e 1.491 de ideação suicida (mais 349 do que no ano anterior).

“Houve um aumento da ideação suicida, mas mais significativo ao nível da intenção. Portanto revela-nos que os comportamentos suicidários tiveram um aumento, mas sobretudo ao nível da intenção e para nós é um indicador importante porque não é só o pensar sobre o suicídio, mas um nível de decisão mais presente, com maior gravidade”, explicou Sónia Cunha, destacando a importância de se vigiar estes indicadores.

O Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) foi criado pelo INEM em 2004, com o intuito de atender às necessidades psicossociais da população e dos profissionais. É formado por uma equipa de psicólogos clínicos com formação específica em intervenção em crise psicológica, emergências psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe.

Este serviço garante o posto no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), em regime 24/24 horas, numa escala bacional, e a operacionalização das Unidades Móveis de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE).

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.570.291 mortos no mundo, resultantes de mais de 115,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.486 pessoas dos 808.405 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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