A inflação é como a fénix: já a estávamos a dar por quase morta e eis que em dezembro renasce das cinzas. Nos EUA subiu de 3,1% em novembro para 3,4%, no Reino Unido de 3,9% para 4%, em França de 3,5% para 3,7%, na Alemanha de 3,2% para 3,7%.
Não estamos na véspera de a ver cair para 2%. Nos EUA acabou o otimismo de ter uma descida da taxa de juro no primeiro trimestre: a FedWatch tool da CME dá 97,4% de probabilidade de ficar inalterada na reunião do FOMC de 31 deste mês e 56,5% até à de 20 de março.
Para final do ano continua a prever uma taxa de 4%, o que parece irrealista: até Christopher Waller, membro do Conselho da Fed e defensor da descida dos juros declarou, há uma semana, que não deve haver pressa, “a inflação tem que estar perto dos 2% de forma sustentada”.
Efetivamente, com o desemprego ao baixo nível atual, crescimento económico sólido (4,9% anualizados no terceiro trimestre) e Wall Street em alta, relaxar a política monetária irá reavivar a inflação. Dia 31 é mais um em que importa o que se diz, não o que se faz.
Há então razões para preocupação, sobretudo no tocante aos EUA, cuja política monetária influencia os mercados financeiros internacionais? Como há três anos, é preciso separar o estrutural do conjuntural. Ainda há espaço para o crescimento do emprego, que aliviaria alguma tensão. A 63%, a taxa de participação está três pontos abaixo de quando da crise de 2008.
Também a reconstrução das cadeias de abastecimento ainda não está terminada, o que permite redução de custos. E aparentemente sofremos a influência de alguns fatores de curto prazo – um exemplo são os ataques aos navios no Mar Vermelho, onde passa um milhão de milhões de dólares de mercadorias por ano, 15% do comércio marítimo, que por sua vez é 80% do comércio internacional em volume e 50% em valor.
Dar a volta a África acrescenta 12 mil km e semana e meia a três semanas; triplica o custo de levar um contentor da China à Europa. Em dezembro o movimento no Suez caiu 50% e o FMI estima um impacto de quase 0,7 pontos na inflação para uma duplicação do custo dos fretes. Tudo somado, sente-se o impacto, e explica a importância de manter o Mar Vermelho aberto.
E pior será se houver alastramento dos atuais conflitos armados, pelo efeito nos mercados da energia e na despesa com defesa, mais ainda se o Congresso americano continuar bloqueado. Mark Twain disse um dia “suponha que é um idiota, e suponha que é um congressista; estou-me a repetir.” O que diria hoje?