A inflação de outubro em Portugal foi aquilo que se pode chamar de um número redondo: 0%. Os preços em outubro mantiveram-se inalterados face a setembro e também em relação a outubro de 2018. Existe o perigo de uma espiral deflacionista em Portugal?

Mesmo registando a segunda inflação mais baixa da zona euro, é muito improvável que Portugal enfrente uma situação de deflação nos próximos tempos. Apesar de a inflação média continuar a recuar (está em 0,4%), a inflação homóloga sobe há três meses e a inflação subjacente está em terreno positivo desde agosto. Dito de outra forma, a inflação já terá batido no fundo.

Devemos ter em mente algumas decisões políticas com impacto relevante no nível de preços, no que toca aos transportes, eletricidade, gás natural, manuais escolares e propinas. Mas se a inflação reflete essa baixa de preços administrados, também mostra que continua a não sobrar assim tanto dinheiro aos portugueses, caso contrário haveria maior pressão pelo lado da procura.

Tendo em conta, sobretudo, o aumento substancial previsto do salário mínimo, a subida das rendas comerciais e o turismo, é de esperar que a inflação acelere em 2020. Esse facto, aliado ao agravamento da carga fiscal, retirará poder de compra àqueles cujo aumento de rendimentos em 2020 resulte, precisamente, da indexação à inflação de 2019.