A última reunião da Reserva Federal confirmou que um número crescente de membros do Comité do Mercado Aberto considera que poderá haver subida de taxas em 2023, e voltou a acicatar o debate em torno da possibilidade das taxas juro subirem mais rapidamente que o que é aguardado.

Os mercados de risco reagiram negativamente e a curva de rendimentos da dívida soberana (Treasuries) alisou para incorporar o aumento das yields a cinco anos, refletindo a antecipação do potencial primeiro aumento das taxas de juro.  Contudo, as yields da dívida soberana para maturidades de 10 anos, acabaram por negociar abaixo do nível pré-reunião da Reserva Federal (Fed), o que indicia que o ritmo de subida de taxas não terá que ser agressivo para colocar a inflação sob controlo.

Esta tese encontra suporte adicional nas leituras da taxa de inflação de equilíbrio (um indicador de mercado para a inflação esperada, calculada pela diferença das yields para a mesma maturidade entre a dívida protegida contra a inflação (TIPS) e a dívida nominal) também diminuiu neste período.

Estas leituras indiciam que os investidores parecem partilhar da opinião da Fed de que o atual nível mais elevado de inflação poderá ser um fenómeno transitório. Isso também explicaria a queda no preço do ouro. Quanto à reação negativa dos mercados acionistas, provavelmente refletiu mais o aumento do prémio de risco exigido, assim como um reajuste das expectativas, e menos uma mudança fundamental no sentimento do mercado relativamente a esta classe de ativos.

Este movimento recente no mercado e a posição da Reserva Federal podem ser entendidos como uma consequência natural das recentes melhorias nas leituras macro, à medida que o crescimento assume um papel central, apoiado pelo processo de reabertura e implementação progressiva da vacinação.

Com o processo de reabertura económica em curso, a inflação deverá subir nos próximos meses, principalmente devido à força dos preços do petróleo e aos efeitos de base muito baixos. Neste momento, são necessárias mais evidências, especialmente da retoma da atividade na fase pós-Covid, e do mercado de trabalho à medida que se for dissipando o efeito de base, e a real rigidez nos mercados de trabalho for ficando mais visível – veremos o verdadeiro poder de negociação para aumentos salariais. No entanto, os investidores irão acompanhar de perto a inflação e os mercados não deixarão de incorporar a evolução da mesma como um risco importante no futuro.

As preocupações relativas à inflação, assim como outros riscos deverão continuar a merecer o palco central nas reflexões, e também poderão proporcionar alguns momentos de volatilidade nos mercados, com o término da tradicional temporada de dividendos e durante um trimestre de verão tradicionalmente menos dinâmico e profícuo em termos de notícias. Mas não deverão perdurar pelo segundo semestre.

Por enquanto, todos os esforços de bancos centrais e governos parecem estar direcionados em reiniciar as economias para um crescimento pós-pandemia. Isso implica manter um ritmo forte de vacinação, que permita a reabertura da atividade, alimentando uma primeira fase de retoma mecânica e mantendo um regime monetário acomodatício e estímulos fiscais robustos.

O autor assina este texto na qualidade de Diretor de Investment Advisory do Bison Bank.