À entrada para 2022, os bancos centrais mostravam uma preocupação natural com a inflação, algo que já não acontecia há bastantes anos. Os riscos provinham essencialmente da subida de preços, ainda localizada em algumas matérias-primas e energia, resultado quer de constrangimentos logísticos quer de excesso localizado de procura, em ambos os casos ligados à pandemia.

A Reserva Federal (Fed) sempre pareceu mais decidida a subir taxas do que o Banco Central Europeu (BCE), até porque este último continua a ter de gerir o frágil dossier do excesso de dívida dos governos e de como a subida dos juros poderá impactar, em última análise, na própria coesão da zona euro. Ainda assim, a mensagem da Fed, BCE e Banco de Inglaterra foi de que os juros (primeiro de mercado e depois via taxa diretora) iriam subir em 2022.

A invasão da Ucrânia pela Rússia coloca sérios riscos ao crescimento, que se esperava pujante no primeiro ano verdadeiramente pós-pandémico, mas também tem um claro impacto sobre os preços, potenciando um cenário de estagflação. Surgiu, então, a pergunta: os bancos centrais irão privilegiar o combate à inflação ou defender a economia?

Até agora, os sinais não poderiam ser mais claros, mesmo depois de 24 de fevereiro: quer a Fed quer o Banco de Inglaterra já subiram taxas e prometem mais. Também o BCE reitera a intenção de “normalizar a política monetária”, sendo que a taxa diretora poderá não ser alterada para já, mas a redução de estímulos e o forward guidance já fazem subir todas as taxas de mercado. Além disso, Christine Lagarde já afirmou que o BCE poderá criar novas ferramentas para impedir o alargamento de spreads entre países para, assim, defender a zona euro.

Em resumo, os bancos centrais estão a privilegiar o combate à inflação. Mas vale a pena notar que as curvas de rendimentos estão com muito pouca inclinação, sendo que nos EUA, a taxa a dez anos está abaixo da referência a cinco anos. O mercado está a dizer duas coisas: recessão e provável erro de política monetária (policy mistake).