O apoio dos cidadãos à integração e desenvolvimento da União Europeia tem vindo lentamente a reduzir-se, na medida em que não compreendem a burocracia, a morosidade nos processos de decisão, o avanço e recuo nas medidas anunciadas.

Portugal foi dos países que mais beneficiou da aplicação de fundos comunitários. Chegámos a ter uma taxa de apoio acima dos 90%. E é visível o impacto na modernização do país, em infraestruturas e ações de desenvolvimento, em apoios às empresas, que tiveram ao dispor instrumentos que fomentaram a formação, potenciaram o investimento, asseguraram a modernidade.

Quem olha para o país dos anos 70 e 80 e o compara com a atualidade nota bem a diferença. Claro que houve erros, desvios e más práticas. Os sistemas de aprovação e fiscalização melhoraram, mas, mesmo assim, é sempre possível encontrar quem tenha utilizado os meios disponíveis de forma incorreta. Os financiamentos permitiram não apenas aumentar o investimento, como também alargar a criatividade e potenciar a capacidade empreendedora que, de outra forma, nunca teria visto a luz do dia.

Passada a fase inicial, o sistema entrou numa rota de cruzeiro, embora continuemos a ser um beneficiário líquido de apoios, ou seja, o mecanismo de solidariedade, um dos pilares da construção europeia, continua ativo e com real eficácia.

Não obstante, o apoio dos cidadãos desliza dos números iniciais, numa manifesta prova de ingratidão. Parte desse sentimento resulta do cinzentismo que se apoderou da UE sob a liderança de Ursula von den Leyen. A vivacidade, o entusiasmo e o protagonismo no mundo perderam-se. Tal como se perdeu parte do brilho com o Brexit, o crescer do terrorismo e do nacionalismo que conduziram à reflexão sobre a utilidade da União.

Mas neste ano de dificuldades, a União foi capaz de se redimir e de nos dar um sinal de que podia assumir um papel relevante internamente, em prol do bem geral. A resposta assente nos apoios financeiros, quer a fundo perdido, quer no acesso a financiamentos a taxas competitivas, vai proporcionar meios aos Estados-membros sem necessidade de recorrer à incerteza do mercado e em condições difíceis.

Acreditamos que a presidência alemã ultrapassará as questões da Polónia e da Hungria, na aprovação do orçamento comunitário plurianual e do Fundo de Recuperação. À imagem do excelente exemplo de liderança que evidenciou no processo de aquisição de vacinas, permitindo que todos os cidadãos encontrem uma vacina disponível, para minimizar o impacto do coronavírus.

Exemplo real expresso nos três mil milhões de euros que chegam agora a Portugal para o apoio ao emprego no âmbito do programa SURE, parte dos 5,9 mil milhões que receberemos na dimensão social de resposta à crise e ao impacto na vida das empresas e dos trabalhadores.

A burocracia europeia responde de forma eficaz aos que dela desdenham. Não reclama gratidão por cumprir o seu papel. Mas merece um registo de reconhecimento por sabermos que podemos confiar e contar com a solidariedade europeia quando necessário.