O cancro do pâncreas é um dos maiores desafios da medicina moderna. Apesar dos avanços científicos das últimas décadas, continua a ser um dos tumores mais difíceis de diagnosticar e tratar precocemente.
Atualmente, a cirurgia é a única opção curativa para a maioria destes doentes. No entanto, só é possível operar quando o tumor é detetado numa fase inicial. Como o pâncreas está localizado profundamente no abdómen, a doença não causa sintomas no início e progride rapidamente, o que leva a diagnósticos muitas vezes tardios.
Nos últimos anos têm surgido inovações promissoras que podem mudar este cenário e trazer esperança a doentes e famílias. Uma das áreas em maior desenvolvimento é o diagnóstico precoce: vários centros de investigação estão a criar testes de sangue baseados em biomarcadores que, num futuro próximo, poderão detetar sinais da doença ainda numa fase inicial.
Estudos recentes mostram que já é possível detetar o cancro do pâncreas em pessoas sem sintomas, permitindo diagnósticos mais precoces e tratamentos mais eficazes. Uma das técnicas mais avançadas é a ecoendoscopia, que combina endoscopia e ecografia no mesmo exame. Este método oferece imagens muito detalhadas, possibilita biópsias seguras e consegue identificar lesões muito pequenas (com menos de 10 mm), que muitas vezes não são visíveis em exames como a ressonância magnética.
Recordo-me, por exemplo, de uma doente que nos procurou com dores vagas no abdómen e perda de peso inexplicada. Uma ecoendoscopia permitiu identificar e biopsar uma lesão muito pequena no pâncreas, com aproximadamente 5 milímetros, que não tinha sido detetada numa RM abdominal. Esta doente foi submetida a cirurgia robótica, não tendo necessitado de tratamentos adicionais.
No tratamento do cancro também há avanços importantes. Novas combinações de quimioterapia já demonstraram melhores resultados na sobrevivência e no controlo da doença. Estão ainda a ser testados esquemas personalizados, adaptados às características genéticas de cada tumor (“medicina de precisão”). A imunoterapia, que ativa o sistema imunitário para atacar as células cancerígenas, começa igualmente a revelar benefícios em alguns grupos de doentes.
Na Gastrenterologia, a inovação tem permitido diagnósticos e tratamentos cada vez mais eficazes. A ecoendoscopia com contraste ajuda a distinguir lesões pancreáticas benignas das malignas e permite recolher amostras com precisão. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (ERCP) evoluiu para técnicas minimamente invasivas, como a colocação de próteses biliares, que aliviam a icterícia e melhoram rapidamente a qualidade de vida. Já a radiofrequência guiada por ecoendoscopia surge como opção para eliminar pequenos tumores em casos selecionados.
Hoje, a Oncologia em Portugal dispõe de tecnologias de ponta, equipas altamente diferenciadas e organização ao nível dos melhores centros do mundo. Os doentes têm acesso a medicamentos inovadores ainda em fase de estudo, radioterapia de última geração e cirurgia robótica. O acompanhamento é feito por equipas multidisciplinares que reúnem especialistas de várias áreas (como Oncologia, Cirurgia, Radioterapia, Gastrenterologia e Anatomia Patológica), garantindo que cada caso é discutido em conjunto antes de se decidir o tratamento.
O futuro do combate ao cancro do pâncreas começa hoje. Com ciência, inovação e equipas dedicadas, é já possível oferecer aos doentes diagnósticos mais precoces e tratamentos mais eficazes. O desafio continua a ser enorme, mas cada passo dado aproxima-nos de transformar uma das doenças mais difíceis da oncologia numa realidade cada vez mais controlável e com mais esperança para quem a enfrenta.