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Instabilidade varre maiores economias da América do Sul

Brasil e Argentina vivem momentos de tensão económica e política. Este ano, os maiores riscos das duas potenciais do subcontinente são a provável contração das suas economias.
4 Abril 2016, 09h01

A quatro meses de receber os Jogos Olímpicos, o Brasil enfrenta uma das mais duras crises políticas, económicas e morais da sua história recente. “Por aclamação”, o PMDB, partido que integra a coligação governativa, oficializou, esta semana, o rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff, deixando no ar a expetativa de que outros partidos da base aliada do governo federal também “desertem”. A decisão, tomada nuns escassos cinco minutos, aumenta a crise política do governo e é vista como um fator importante no processo de “impeachment” da Presidente. Em Portugal, onde participou no IV Seminário Luso-Brasileiro de Direito Constitucional, Gilmar Mendes, o juiz do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu Lula da Silva de ministro considera que nomeação do ex-presidente foi má para a imagem do Brasil e é um erro político. No âmbito da operação Lava Jato, a maior operação de  corrupção investigada no Brasil, mais de 200 políticos terão recebido dinheiro da firma de construção Odebrecht a troco de favores. Esta operação, que poderá levar ao “impeachment” de Dilma, obrigará seguramente a uma reforma política que altere o quadro atual dos financiamentos partidários.

No Brasil, as más notícias sucedem-se de dia para dia. Fevereiro de 2016 ficará para a história como o pior fevreiro desde 2002 em termos do défice do setor público. No espaço de uma semana, a economia registou uma ligeira degradação nas expetativas dos analistas, o que os levou a rever em baixa as suas previsões. A pool de analistas do mercado financeiro consultados semanalmente pelo Banco Central esperam uma recessão de 3,66% este ano, face aos 3,60% que antecipavam na semana anterior – 3,66% no ano dos Jogos Olímpicos!

O último relatório da seguradora de crédito Crédito y Caución lembra que o crescimento económico do Brasil começou a ressentir-se em 2014, devido à debilidade da procura e à baixa de preços das matérias-primas. O documento, menos recente que a análise semanal do banco central, prevê uma contração económica de 3% em 2016, com um agravamento do desemprego e uma inflação perto dos 7%.

A contração económica em muito dificulta a consolidação fiscal”, vinca o documento, apontando outras fasquias: Em 2016, prevê-se que o défice alcance os 8%, levando uma dívida pública até 70% do PIB. Também o crescimento da divida corporativa entre 2007 e 2014 no Brasil é uma das mais intensas que já registaram os mercados emergentes. A companhia lembra que o Governo se encontra submetido a uma grande pressão social desde finais de 2014, “devido aos três escândalos de corrupção que debilitaram a sua capacidade para desenvolver as reformas estruturais no país.”

O Brasil é um caso. A vizinha Argentina é outro.Fechada ao mundo durante cerca de  década e meia, este país da América Latina, que, no século XX, conheceu anos importantes de prosperidade, mudou de condução ideológica em novembro de 2015. Mauricio Macri, o novo Presidente, mal tomou posse, anunciou o desenvolvimento de grandes reformas. Num país tão bipolarizado, naturalmente persiste instabilidade na economia. A eliminação dos impostos à exportação de produtos agrícolas e a libertação das taxas de cambio do peso deram lugar a uma depreciação do peso superior a 30%, que proporcionou um crescimento da inflação, que pode chegar aos 35% em 2016. Porém, aumentou a competitividade das exportações. O novo Governo já anunciou que eliminará os subsídios com o fim de reduzir o défice.

No entanto, assinala a seguradora, esta ação “pode prejudicar um crescimento económico já débil, assim como incrementar o conflito social”. Apesar das reformas, a volatilidade da moeda, a falta de acesso aos mercados internacionais de capital, assim como as medidas para controlar a inflação e a austeridade fiscal podem conduzir, de acordo com o relatório divulgado pela Crédito y Caución, a uma contração económica a curto prazo.

O Chile é uma realidade política e económica diferente. O ambiente chileno no que se refere aos negócios é um dos melhores da América Latina e o “Governo continua a tentar estimular o investimento estrangeiro, com um setor bancário são, bem regulado e suficientemente capitalizado”. Segundo o relatório divulgado pela Crédito y Caución, as previsões de crescimento do PIB do Chile apontam aos 2,2% em 2016.  Não obstante, algumas empresas estão a utilizar a depreciação da moeda e a volatilidade dos preços como pretexto para atrasar os seus pagamentos.

A economia chilena depende em grande medida, das exportações do cobre que representam mais de 50% do total das exportações e 10% do PIB. O crescimento deste metal tem vindo a abrandar desde 2014, devido ao final do boom das matérias-primas e à diminuição da procura interna, que afetam o investimento e o consumo. Neste ambiente, continua o crescimento da despesa pública. Ainda assim, o país trabalhou durante o período das “vacas gordas”, diversificando a base da economia. “As receitas não relacionadas com o cobre aumentaram na última década, pelo que tem muito potencial para diversificar a economia mediante o aumento do investimento em setores não relacionados com o minério”. Porém, na análise da Crédito y Caución, a desigualdade nas receitas, o baixo nível de escolaridade e a baixa produtividade continuam a ser um obstáculo para o crescimento económico a longo prazo.

Para este ano, o relatório da Crédito y Caución situa as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto do Chile em 2,2%. Ainda assim, qualquer semelhança com os seus dois vizinhos Brasil e Argentina é pura coincidência.

Por Almerinda Romeira

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