O conceito da sustentabilidade começou por estar associado a questões ambientais, principalmente aquelas que podem colocar em causa a nossa sobrevivência a longo prazo. O alargamento deste conceito a praticamente tudo o que fazemos, desde o consumo, hábitos de convívio diários, terminando na finança, torna este tema incontornável.

O investimento em empresas com critérios ambientais, sociais e de governação corporativa, ou ESG, estão no centro das atenções dos investidores. Em 2018, só no mercado dos EUA, esse investimento ultrapassou os dez biliões de dólares americanos, sem falar da crescente procura por emissões “verdes” do lado europeu, ou seja, por empresas que tenham elevados níveis de responsabilidade social.

A procura por parte dos investidores prende-se com a maior eficiência destas empresas na abordagem de problemas de longo prazo, como poluição, ruído, direitos humanos, segurança no trabalho, na adopção de tecnologias “limpas” e políticas anti-corrupção, na preocupação em apoiar a comunidade, para citar apenas alguns exemplos. Em troca deste investimento em critérios sustentáveis, as empresas têm mais acesso ao mercado de capitais, o que se traduz em menores custos de captação de capital.

As recentes evoluções tecnológicas ao nível dos algoritmos e do tratamento de dados foram determinantes para o florescimento da indústria baseada em critérios ESG pois permitem aos investidores terem acesso a pontuações de empresas que são calculadas com base em dezenas ou centenas de indicadores, que de outra forma seriam impossíveis de calcular.

Existe ainda o lado da sustentabilidade financeira pessoal, no dia-a-dia, que tem a ver com a decisão entre consumo presente e futuro. Um cidadão que consome muito no presente, nomeadamente recorrendo ao endividamento, pode colocar em risco o seu consumo futuro e a sustentabilidade das suas finanças, caso o seu rendimento não aumente.

Foi aqui que a última crise teve o seu grande impacto. A maior parte dos créditos concedidos não eram sustentáveis, nem continham garantias que protegessem as instituições financeiras e os devedores. A poupança surge como a única forma das famílias e empresas garantirem a sua sustentabilidade a longo prazo.

No entanto, no caso do sistema financeiro, principalmente o europeu, a expressão sustentável continua a ter pouca aplicação, principalmente olhando para os balanços dos bancos e seguradoras, mais especificamente a sua rentabilidade. Os últimos cartuchos foram gastos na subida do preço das obrigações, que mascararam quer as contas das instituições financeiras, quer as da Segurança Social, que anunciou agora ter uma folga para pagar pensões até 2050.

Não estará o Banco Central Europeu com esta política de taxa de juro negativa a contribuir para a insustentabilidade do sistema financeiro e a sua ruptura a curto prazo? O drama da sustentabilidade da rentabilidade está ao virar da esquina.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.