Considera-se dias de internamento inapropriado todos os dias passados por um paciente no hospital quando já tem alta clinica e não existe um motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.

Porque continua então tal paciente no hospital? É a questão que se coloca.

Por motivos variados, como a incapacidade das famílias para cuidar desses cidadãos e a falta de respostas na comunidade, com instituições que se possam sobrepor às famílias nesses cuidados.

No entanto, o prolongamento dos episódios de internamento hospitalar para além do período clinicamente necessário conduz a complicações evitáveis para o doente, aumentado o risco de infeções, de depressão, de quedas e de agravamento dos estados de dependência.

Adicionalmente, o seu impacto na ocupação de camas hospitalares repercute-se nos tempos de espera para internamentos eletivos (incluindo cirurgias) e no congestionamento dos serviços de urgência, com a respetiva degradação dos cuidados de saúde prestados a todos os cidadãos.

Apesar da relevância do tema, não existiam até há dois anos dados quantitativos nacionais sobre o fenómeno de internamentos inapropriados que permitissem atuar sobre o problema. Com o objetivo de medir os impactos deste fenómeno na Sociedade Portuguesa, a APAH e a EY uniram esforços e, desde 2017, realizam uma monitorização periódica deste fenómeno, de forma a dar relevo à problemática e a fomentar o desenvolvimento de ações para minimizar o seu impacto.

O estudo deste ano, no qual participaram 79% do número de camas do SNS, revelou que embora o problema se encontre aparentemente a evoluir no caminho certo, com a diminuição da percentagem de internamentos inapropriados, de 6%, para 4,7% do total de internamentos, a nível nacional, a verdade é que, a 18 de fevereiro de 2019, os hospitais participantes apresentavam uma média de dias de internamento inapropriado de 98,4 dias (aumento de 46% face à Edição anterior) correspondendo a uma despesa estimada de 31,5 M€. A extrapolação deste valor para um ano dos internamentos inapropriados evidencia um impacto estimado superior a 83,7 M€ para o Estado. (1)

Identificado que está o problema, cabe-nos a todos enquanto sociedade refletir sobre a forma como queremos ser tratados na nossa velhice e/ou incapacidade e perceber que tipo de soluções podemos exigir e, ajudar a construir, para a resolução do problema.

 

(1) Dados de 3.º BARÓMETRO DE INTERNAMENTOS SOCIAIS, 18 de Fevereiro de 2019, APAH/EY