Segundo o Financial Times, dos aproximadamente 7 mil milhões de dólares que foram investidos em fundos de ações negociados em bolsa (ETF) referentes a ações dos EUA, mas domiciliados no estrangeiro, 80% foram alvo de cobertura contra a desvalorização do dólar. Esta percentagem de cobertura contrasta com os cerca de 20% que se verificavam no início deste ano. Este comportamento mostra o receio uma desvalorização adicional do dólar, mesmo após a moeda já ter recuado cerca de 15% face ao euro desde fevereiro.

Ao fazer a cobertura cambial, os investidores pretendem ficar apenas expostos à variação do preço das ações, evitando os efeitos da flutuação do dólar na valorização das carteiras de investimento. No entanto, a cobertura de risco tem custos – caso seja feita da forma mais simples, custa agora cerca de 2% por ano. O BIS – Banco de Internacional de Compensações – afirmou em junho que a cobertura cambial por instituições não americanas contribuiu de forma importante para a desvalorização do dólar em  abril e maio, com investidores sediados na Ásia a ter um papel significativo.

Vários analistas consideram que se trata de uma tendência de longo prazo de queda do dólar, com várias causas. As mais recentes estão relacionadas com o protecionismo comercial e com os riscos de perda de independência da Reserva Federal dos EUA. Donald Trump tem vindo a pressionar fortemente o presidente da FED para que corte as taxas de juro mais e mais depressa, enquanto vai substituindo os membros do comité de Política Monetária por outros mais alinhados com as suas ideias.

Teme-se que as autoridades monetária e fiscal se tornem, na prática, numa só, o que iria erodir a confiança no dólar e poderia causar uma forte inclinação da curva de rendimentos, com potencial de desencadear movimentos imprevisíveis nos mercados financeiros. Comparando o comportamento atual do dólar com o que aconteceu no primeiro mandato de Donald Trump, encontramos muitas semelhanças. Se o padrão de evolução do Eur/Usd se mantiver o mesmo de há 5 anos, o dólar ainda tem espaço para cair mais, até perto de 1.25 dólares por euro.

Tendo em conta as sondagens efetuadas aos analistas de mercado, as previsões vão no mesmo sentido, embora apontando“apenas” para $1.20 a 12 meses. O que também parece evidente é que nemos EUA (Tesouro e FED) nem o BCE se têm mostrado desconfortáveis com a atual tendência de desvalorização do dólar.