Os anglo-saxónicos chamam-lhe vetting, mas podemos referi-la como investigação preventiva, como a que o procurador-geral da República anda a fazer para esclarecer as dúvidas sobre a empresa de Luís Montenegro ou as casas de Pedro Nuno Santos. Trata-se de um exame crítico para perceber se alguém é aceitável para posições em que tem de lidar com informações sensíveis, lugares que requerem confiança.

Por exemplo, no Governo, mas não só, nas empresas e nos negócios também. Pode ser feita através de informação pública, de fontes abertas. O objetivo é minimizar o risco, evitar o problema. Mais ainda hoje, porque quando a reputação é fundamental, a escolha errada ou a relação duvidosa podem ter custos elevados.

Em Portugal, isto não existe, não se pratica. Evita-se. Prefere-se a roleta da decisão sem informação em vez da prevenção, a confiança empírica em vez do processo. A investigação preventiva é vista como uma invasão, um sinal de desconfiança, É encarada como algo pessoal, desencadeado pela dúvida, que, por si só, é olhada como uma mancha no caráter, quando se trata do contrário, de gerar segurança e evitar a incerteza.

Na política, os partidos já não vão a tempo de utilizar o vetting para a escolha dos deputados, infelizmente, depois do muito a que temos assistido e em diferentes quadrantes políticos. Mas ainda é possível usar esta ferramenta para o apoio na escolha dos membros do governo, numa atitude prospetiva.

É preferível ser mais profissional do que o questionário de ocasião promovido à pressa, para tentar tapar o buraco da inexistência de processos. Já há demasiado o que fazer para não se perder tempo com crises evitáveis, com casos e casinhos.