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Investigador aponta como grande desafio afirmar o português como língua de ciência

“As comunidades científicas portuguesa, brasileira, angolana ou moçambicana estão em crescimento e podemos criar ligações e uma rede de conhecimento cada vez mais sólida entre universidades e académicos”, comunicando e publicando em português, disse o investigador Paulo Mendes Pinto.
  • 8 – Portugal
3 Maio 2021, 08h57

O investigador e académico Paulo Mendes Pinto apontou hoje como grande desafio a afirmação do português como língua de ciência, unindo regiões que serão centrais para as grandes questões de desenvolvimento no século XXI.

“Algumas das temáticas mais importantes hoje e ao longo de todo o século XXI, ligadas às questões sociais, ao desenvolvimento, à economia e à ecologia, serão centrais em geografias onde a lusofonia é muito presente”, disse Paulo Mendes Pinto.

O investigador e docente da Universidade Lusófona falava à agência Lusa em antecipação à conferência “O português como língua de ciência e de cultura”, que se realiza, em Lisboa, na próxima quarta-feira, quando se assinala o Dia Mundial da Língua Portuguesa, proclamado em 2019 pela UNESCO.

“O grande desafio que a nossa espécie tem nos próximos anos na ecologia é a Amazónia, e nas questões do desenvolvimento são a América do Sul e África”, exemplificou.

É neste contexto, acrescentou, que “o português pode tornar-se numa língua de ciência” em regiões onde surge como “a possibilidade de diálogo”.

Paulo Mendes Pinto assinalou o forte crescimento da comunidade científica nos países lusófonos, considerando que a língua portuguesa pode conquistar espaço numa área em que a língua franca é o inglês.

“Como língua de cultura, está perfeitamente cimentada e o grande desafio agora é afirmar o português como língua de ciência”, disse.

Para o investigador, “a questão é perceber de que forma é possível transformar o português numa língua de ciência sem que seja uma luta contra o inglês”.

“As comunidades científicas portuguesa, brasileira, angolana ou moçambicana estão em crescimento e podemos criar ligações e uma rede de conhecimento cada vez mais sólida entre universidades e académicos”, comunicando e publicando em português, disse.

Para o professor da Universidade Lusófona, é por esta via “que será possível afirmar o português como língua de ciência” que une uma comunidade científica e que, sendo periférica, “pode usar o português como diferenciador e como um elemento que une as diversas partes”.

Sobre a consagração do 05 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, Paulo Mendes Pinto considerou que a distinção é “acima de tudo simbólica” que cabe agora aos países potenciar.

“A criação deste dia é o reconhecimento do lugar do português no mundo futuro. É uma língua que está francamente em crescimento seja em África ou na América do Sul, em comunidades de migrantes pelo mundo. É uma das línguas com maior potencialidade no futuro, especialmente no hemisfério sul”, disse.

“É uma língua que no diálogo cultural, entre países, pode ter um peso muito grande. Este Dia Mundial é um desafio para que os falantes de português ocupem esse espaço, que está perfeitamente localizado em termos geoestratégicos, geopolíticos, geoeconómicos e geoculturais”, acrescentou.

Paulo Mendes Pinto apontou, por outro lado, que a visão “muito negativa” que havia há 20 ou 30 anos sobre a perda do português para as línguas locais ou para o inglês em países lusófonos como Angola ou Moçambique não se concretizou.

“Verificou-se que nesses países, o português afirmou-se como língua franca entre comunidades, geografias e etnias”, disse, assegurando que “o português é uma língua de futuro” nestes países.

O Dia Mundial da Língua Portuguesa comemora-se pela segunda vez, em formato híbrido, presencial e ‘online’, e a programação inclui mais de 150 atividades em 44 países de todos os continentes, além de uma cerimónia oficial a partir de Lisboa.

A UNESCO proclamou, em 2019, 05 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, na sequência da proposta de todos os países lusófonos, apoiada por mais 24 Estados, incluindo países como a Argentina, Chile, Geórgia, Luxemburgo ou Uruguai.

O português é falado por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, estimando-se que, em 2050, esse número cresça para quase 400 milhões e, em 2100, para mais de 500 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas.

As projeções para o final do século apontam que será no continente africano que se registará o maior aumento do número de falantes, nomeadamente em Angola, que deverá ter uma população superior a 170 milhões de pessoas e Moçambique com mais de 130 milhões de pessoas.

É a língua mais falada no hemisfério sul e a quarta língua mais falada no mundo como língua materna, a seguir ao mandarim, inglês e espanhol, segundo o Observatório da Língua Portuguesa.

É também a quinta língua mais utilizada na Internet.

Globalmente, 3,7% da população mundial fala português, que é língua oficial dos nove países membros da Comunidade dos Países (CPLP) e em Macau.

Em conjunto, as economias lusófonas valem cerca de 2.700 milhões de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os países de língua portuguesa representam 3,6% da riqueza mundial, 5,48% das plataformas marítimas globais, 16,3% de disponibilidade global de reservas de água doce, 10,8 milhões de quilómetros quadrados.

O português é também língua oficial ou de trabalho de cerca de 20 organizações internacionais, incluindo a União Europeia, União Africana, UNESCO, CPLP, Organização Mundial da Saúde (OMS), Mercosul, Organização dos Estados Americanos (OEA), Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ou Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).

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