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Investimento francês continua a crescer enquanto a língua volta a ganhar espaço

O investimento francês em Portugal está em setores tão relevantes como a indústria automóvel e de componentes, a aeronáutica, a energia, o digital, as TI, as novas tecnologias ou a distribuição.
22 Outubro 2019, 07h32

Poucos serão os setores produtivos onde gestores e empresários franceses não estejam envolvidos. O ambiente de negócios, a estabilidade social e política, e ainda a oferta de serviços de saúde, telecomunicações e transportes fazem a diferença para as empresas francesas, ou simplesmente para a classe média francesa que se instala em Portugal.

A França está entre o top 5 dos maiores parceiros nacionais como mercado de compra e venda de produtos e serviços e, por isso, é um parceiro de eleição. Os Troféus Luso-Franceses promovidos pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF), que já vai na 26ª edição, revelam isso mesmo: a crescente importância da relação bilateral nas áreas do comércio, investigação e imobiliário, mas também no ensino e na cultura. Neste aspeto, é relevante frisar aquilo que o presidente da CCILF, Carlos Aguiar, refere na entrevista desta edição, quando afirma que “os liceus franceses em Lisboa e Porto são centros de ensino de excelência, mas que já sentem algumas dificuldades em fazer face à procura crescente das famílias francesas que se instalam em Portugal”. E tão relevante como os franceses se instalarem é a importância da língua, que ao longo das últimas décadas foi substituída por outra de caráter mais universal. Mas o francês está (de novo) a ganhar relevo em Portugal. Diz ainda Carlos Aguiar que, “para os portugueses, a aprendizagem da língua francesa voltou a ganhar importância acrescida face às oportunidades de emprego proporcionadas pelas empresas francesas, cabendo destacar o trabalho exemplar da Alliance Française e dos Conselheiros Franceses do Comércio Externo”.

 

Soberania
A par do esforço voltado para as famílias e as empresas, a França tem outras grandes preocupações relevantes para Portugal. Ainda num recente discurso do Presidente da República francesa Emmanuel Macron aos embaixadores, onde esteve presente a nova embaixadora em Lisboa, Florence Mangin (com uma entrevista na próxima edição dos Troféus), aquele frisava a prioridade de trabalhar na “construção de uma soberania europeia”. Afirmou na ocasião que este projeto “está no coração europeu e que é partilhado por muitas pessoas desta sala. A soberania europeia não é uma palavra vã. Penso que ao longo de muito tempo cometemos erros ao deixarmos o termo soberania para os nacionalismos. Soberania é uma palavra bonita. Lembra-nos aquilo que está no coração da nossa democracia e da nossa República, é um facto que tem um nome próprio, aquele que é soberano, é o povo. Aquele que decide, mas se perdermos a orientação sobre este princípio, esta soberania não nos conduzirá a lada nenhum. (…) e a responsabilidade dos dirigentes de hoje é de dar condições para terem mão sobre esse destino, para terem um povo com futuro, para que possa ser responsável e intervir”. E mais à frente, no mesmo evento, o presidente Macron fala de uma Europa e de uma estratégia que envolve também Portugal e as empresas lusas. Fala de uma Europa “que investe na investigação e desenvolvimento de uma forma massiva, com destaque para os novos setores industriais e que enfrentam as exigências da concorrência e ao mesmo tempo são compagináveis com a soberania industrial. (…) Esta é uma Europa que “decidiu ter uma verdadeira estratégia climática e industrial e que coloca uma fasquia elevada no preço das emissões de carbono, e que é aliás bastante elevada para estimular a transição que orienta os nossos atores (industriais) e cria uma verdadeira tarifa aduaneira de forma a evitar a concorrência desleal de atores que não trabalham dentro do mesmo nível de transição (descarbonização)”.

 

O investimento em França
Toda a estratégia francesa a nível de alterações climáticas e a transição para um novo nível industrial com forte redução da descarbonização são uma oportunidade para empresas portuguesas naquele país. Carlos Aguiar salienta que a Câmara de Comércio em articulação com a Business France, o equivalente ao português AICEP, a par dos Serviços Económicos da embaixada de França, “tem vindo a iniciar ou a participar em ações destinadas a dar a conhecer o mercado francês”. Alerta o presidente da CCILF que, “à semelhança do que recomendamos aos franceses que se querem instalar em Portugal, para um conhecimento aprofundado do mercado francês é prudente e avisado que o interessado procure conselho especializado adequado, que lhe permita compreender melhor o país, as suas gentes e a sua cultura, melhor formatar o seu projeto e avaliar os riscos do mesmo”.

 

Os setores
Entre os setores de maior apetência para atrair cidadãos franceses está o imobiliário. O regime fiscal dos Residentes Não Habituais, criado em 2009, oferece a isenção de IRS aos reformados e uma taxa reduzida de impostos aos rendimentos do trabalho. Este sistema tem atraído reformados e profissionais de alto valor acrescentado, situação que teve grande impacto no setor imobiliário, figurando os cidadãos franceses entre os estrangeiros com maior volume de compras. Exemplo desse sucesso foi o Salão Imobiliário de Turismo Português – Invest Portugal que se realizou em maio em Versailles, Paris, onde estiveram 150 expositores. Para além de Lisboa, Porto e Algarve, também Famalicão, Olhão, Seixal, Vila de Rei e Nazaré estiveram representadas. No mesmo evento, o realce foi para o promotor francês Nexity.

Recorde-se que o programa de Residentes Não Habituais gerou um investimento direto que está calculado entre os nove mil milhões e os 11 mil milhões de euros ao longo de 10 anos, de acordo com dados da APEMIP. Envolve 25 mil cidadãos de 146 países mas os franceses estão à frente. No setor imobiliário ganhou um peso incontornável a Vanguard Properties de José Botelho e do empresário francês Claude Berda, com o projeto da Comporta.

Em Portugal trabalham cerca de 750 empresas com capital francês que empregam mais de 60 mil pessoas. O número não é novo, o que é relevante é ter-se mantido estável. O setor automóvel, como já referimos, é dos mais importantes, com destaque para o grupo PSA com fábrica em Mangualde, ou ainda o centro de Cacia, que produz componentes para a Renault. As energias renováveis, e já vimos que este setor é relevante para a descarbonização, tem a Engie. Esta companhia conta com uma parceria com a EDP. Depois, na distribuição, o domínio é totalmente francês com as marcas Auchan e Leroy Merlin, Decathlon, Leclerc, Conforama, Fnac, La Redoute ou o Intermarché. Nas telecomunicações temos a Altice que controla a Meo, enquanto na indústria de iluminação pontua a Legrand. No setor financeiro o destaque vai para o BNP Paribas, que tem um hub em Portugal. Outros grupos relevantes são a própria Bolsa de Valores de Lisboa, controlada pela Euronext de Paris, ou ainda bancos com forte pendor tecnológico como o Natixis. Pelo meio figuram ainda nomes tão relevantes como a Altran, a Europcar ou a Teleperformance. Este conjunto de empresas permitiu que se tornassem os segundos maiores investidores diretos em Portugal, calculando-se o stock de investimento direto de França em Portugal nos 6,3 mil milhões de euros, de acordo com um trabalho desenvolvido pelo BNP Paribas.

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