Vivemos tempos caracterizados pela incerteza. Nenhuma conquista pode ser assumida como garantida nem nenhum processo de crescimento dispõe de alicerces tão sólidos que não possa conhecer retrocessos. Num mundo globalizado, o destino de um país passou a estar inexoravelmente ligado ao de outros países que integram a sua região ou até mesmo a outros continentes.

Portugal, com a sua posição periférica no mapa europeu e a sua economia repleta de debilidades estruturais, não foge à regra. Por mais que se enalteçam indicadores conjunturais, a verdade é que o balanço da nossa integração europeia na última década e meia está longe de ser louvável: crescimento anémico do produto interno, desigualdades acrescidas na distribuição da riqueza, dívida pública a níveis estratosféricos. Tudo isto acrescido de um programa de ajustamento estrutural que nos colocou ainda mais à mercê das oscilações dos mercados financeiros e causou profundas feridas sociais.

O melhor das crises é tentarmos colher ensinamentos que nos previnam quanto à repetição dos erros cometidos. Esperávamos que a eclosão da crise de 2011 tivesse funcionado como um suplemento de sabedoria para os nossos decisores políticos e económicos mas, infelizmente, estamos longe de alimentar certezas nesta matéria. À medida que vamos escutando certas declarações, chegamos até a interrogarmo-nos por onde terão andado certos responsáveis nos anos em que o País perdeu a soberania financeira.

Com efeito, alguns parecem ignorar os sinais de alarme que subsistem: a dívida pública portuguesa permanece entre as cinco mais elevadas do mundo, os juros da dívida a dez anos chegaram há dias aos 3,9% e a única agência de notação financeira (a canadiana DBRS) – que coloca a nossa dívida soberana acima de ´lixo´ – ameaça baixar ratings na sequência da recente sucessão de casos relacionados com a Caixa Geral de Depósitos.

Esta semana, a OCDE lançou outro sinal de aviso ao rever em baixa as estimativas do crescimento português para 2017: apenas 1,2%, francamente abaixo do patamar de 1,5% assumido pelo Governo nas previsões em que se baseia o Orçamento do Estado. Tal cenário, somado ao agravamento dos custos da dívida e às evidentes fragilidades do nosso sistema financeiro, impõe mais do que nunca que se estimule o nosso crescimento económico atraindo fortemente o investimento. Esta deve passar a ser a prioridade das prioridades se queremos evitar outro “programa de ajustamento” com devastadores no nosso tecido social.

O povo português não perdoaria à classe política se constatasse que os seus esforços haviam sido em vão. Por outro lado, a onda populista com laivos de “expressão antissistema” vai-se manifestando um pouco por toda a parte no continente europeu. Lamentavelmente, há quem pareça ainda não ter despertado para esta realidade. Oxalá não o venha a fazer tarde demais.