A necessidade e importância do investimento público é um dos temas sobre os quais reflito com frequência, pois o correto aproveitamento dos fundos comunitários, quer dos planos regionais, quer dos que derivam da pandemia via Plano de Recuperação e Resiliência, é determinante para o nosso futuro coletivo.

É que apesar de, felizmente, estarmos a conseguir ultrapassar esta grave crise de saúde pública, surgida de forma repentina e intensa, o caminho da nossa recuperação económica, financeira e social continua a ser uma miragem, além de penoso e longo.

Ainda esta semana, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou estatísticas da despesa pública, com informação sobre a forma como o Estado gasta os seus recursos financeiros.

Numa análise comparativa com os demais países europeus, revela que Portugal foi aquele que menos investiu em 2020, um valor equivalente a 2,2% do PIB, largamente abaixo dos 3,1% da média da zona euro. E embora tenha crescido 16,3% face a 2019, tal não foi suficiente para retirar Portugal da cauda da zona euro, pois apresentou o menor valor entre todos os países da zona euro. E porque será?

Na verdade, somos um país endividado onde a fatura dos juros com a dívida pública continua a pesar bastante na despesa do Estado, sendo a terceira mais alta da zona euro. Pagámos em 2020 cerca de 5,8 mil milhões de euros em juros relativos à “nossa” dívida, cerca do dobro dos 3,5 mil milhões de euros do valor pago em 1999, ano da introdução do euro. Em vinte anos pagámos, tão-só e apenas, o dobro em juros… algo absolutamente insustentável.

Esta é mais uma evidência da incapacidade do Governo em promover a realização de investimento, algo que num ano tão sensível e pandémico como 2020 não mudou. A regra dos últimos anos tem sido o estarmos no fim da tabela dos países em realização de investimento. E 2020 só é mais grave do que os outros, pois o recomendável (e obrigatório) seria investir, pois até nem havia limites ao financiamento orçamental por via do endividamento (défice).

Mas não, o investimento público só sobressaiu por ter sido mais um ano de anúncio de muitos milhões de investimento… para o futuro. E na boa maneira socialista de anunciar, adiar e voltar a adiar para voltar a anunciar, constatando que o Estado na sua maioria se limita a manter as empresas de serviço público, assistindo à sua acentuada degradação.

Nunca como agora foi tão necessário trilhar o caminho certo do crescimento económico e do investimento público que o país precisa e merece. O risco da degradação e da perda de oportunidades que os apoios europeus oferecem é grande. Não podemos facilitar nem adiar problemas, pois será uma nova oportunidade tragicamente perdida.