Um estudo recente da CIP revela que a nossa economia pode perder 1,1 milhões de postos de trabalho até 2030 em resultado da robotização e digitalização de alguns setores, especialmente a indústria transformadora e o comércio. O mesmo estudo prevê, em contrapartida, que a evolução tecnológica possa criar entre 600 mil e 1,1 milhões de novos empregos nos próximos dez anos.

Mas as novas oportunidades profissionais vão surgir maioritariamente em áreas diferentes das dos postos de trabalho extintos, o que, calcula o estudo, obrigará cerca de 700 mil trabalhadores a mudar de emprego.

Este cenário é preocupante em termos de integração profissional e coesão social, mas prenuncia um processo de modernização das empresas que se afigura salutar. A automação da cadeia de valor é fundamental para a competitividade empresarial, pois permite ganhos significativos ao nível da produtividade, da racionalização de custos, da qualidade do produto e da eficácia do processo decisório.

As empresas que não se automatizarem correm o risco de soçobrar perante a competição global, gerando-se, também assim, importantes perdas de postos de trabalho. Importa, então, encontrar um equilíbrio entre a intensificação tecnológica das empresas e as legítimas expectativas de integração profissional dos cidadãos.

No que se refere à educação formal, é necessária uma reforma curricular que adapte o ensino à nova natureza do trabalho. Ou seja, há que desenvolver nos alunos competências tecnológicas, claro, mas também soft skills que lhes deem capacidade de liderança, espírito de equipa, iniciativa própria, inteligência emocional e adaptabilidade a várias funções. Desta forma, a digitalização da economia será uma oportunidade de realização profissional, e não uma via para o desemprego ou para empregos pouco dignos.

Já o processo de reconversão laboral deve, naturalmente, estar centrado nas empresas. Como o emprego repetitivo e pouco especializado tende a acabar, as empresas têm de saber desenvolver nos seus trabalhadores novas competências para continuarem a tirar partido da sua produtividade. Isto faz-se intensificando a formação profissional, instrumento eficaz de especialização do capital humano em função das necessidades das empresas.

Acontece que a despesa das empresas com formação está em queda desde 2010. A reconversão laboral pode, pois, ficar hipotecada se não forem dados incentivos às empresas para investir na formação. No futuro quadro comunitário, aos fundos destinados à transformação digital devem somar-se incentivos substantivos à requalificação profissional, de modo a evitar a perda de empregos por obsolescência tecnológica.

Interessa evitar em Portugal não só um défice de recursos humanos mas também o “efeito sanduíche” – tendência do mercado de trabalho que consiste na procura, em simultâneo, de mão de obra com baixas qualificações e de profissionais altamente qualificados, penalizando os trabalhadores com qualificações intermédias.