O governo de Giorgia Meloni está ansioso por avançar com uma ponte que permita a travessia do Estreito de Messina, que seria a ponte suspensa mais longa do mundo. O executivo propõe que a ponte para a Sicília, orçamentada em 13,5 mil milhões de euros, seja definida como gasto militar, elegível para que o país atinja os 5% do PIB na defesa. A Itália é um dos mais tímidos investidores em defesa no quadro da NATO, com apenas 1,49% do produto destinado às Forças Armadas em 2024.
Tanto o ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, como o ministro das Infraestruturas, Matteo Salvini, ambos vice-primeiros-ministros de Meloni, insistem, segundo o site ‘Politico’, que a ponte tem um valor estratégico para a NATO, e não um papel puramente económico. Segundo fontes do jornal, nenhuma decisão formal foi ainda tomada, mas o executivo estará a envidar esforços para ver se a ideia é viável.
Existem alguns motivos claros pelos quais a Itália pode ser capaz de construir um caso para a ponte. Da meta de 5% do PIB para a NATO, apenas 3,5% precisam de ser gastos básicos com a defesa, enquanto os restantes 1,5% podem ser direcionados para uma resiliência estratégica mais ampla, como infraestruturas. Aliás, vale a pena esperar pela tradicional criatividade europeia para se perceber até onde vai a ‘elasticidade’ dos projetos para serem capazes de entrar no perímetro dos 5%.
Um responsável do Ministério das Finanças italiano sugeriu, citado pelo ‘Politico’, que a ponte, como projeto militar, ajudaria o governo a superar algumas das barreiras económicas e técnicas que impediram a sua construção no passado. Durante décadas, os esforços para construir a ponte — com um vão central estimado em 3,3 km — esbarraram repetidamente em problemas de custos, dificuldades de operar numa zona sísmica e o desafio de deslocar residentes. A inscrição da ponte no quadro da NATO anularia obstáculos burocráticos, eventuais litígios com autoridades locais e dificuldades de financiamento.
Em abril, o governo italiano adotou um documento declarando que a ponte deveria ser construída por “razões imperativas de interesse público superior”. “Além de seu uso civil, a ponte sobre o Estreito de Messina também tem importância estratégica para a segurança nacional e internacional, tanto que desempenhará um papel fundamental na defesa e segurança, facilitando o movimento das forças armadas italianas e dos aliados da NATO”, dizia o documento oficial.
A Itália também solicitou que o projeto fosse incluído no plano de financiamento da União Europeia para a mobilidade de pessoal militar, material e ativos, pois “encaixaria perfeitamente nessa estratégia, fornecendo infraestrutura essencial para a transferência de forças da NATO do norte da Europa para o Mediterrâneo”. A ponte “representa uma vantagem para a mobilidade militar, permitindo o transporte rápido de veículos pesados, tropas e recursos rodoviários e ferroviários”, acrescentava o governo.
Oficialmente, o Estreito de Messina fica fora do único corredor de mobilidade militar designado pela NATO na Itália — que começa nos portos da região da Puglia, cruza o Adriático até à Albânia e continua até à Macedónia do Norte e à Bulgária. Também não está claro se o estreito está na própria rede de mobilidade militar da União, cujos corredores devem, em princípio, alinhar-se com as rotas da aliança.
Resta saber o que dirá a NATO e o próprio Donald Trump sobre toda esta pantomina.
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