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J. D. Vance: um ‘anti-ucraniano’ ao lado de Donald Trump

Entre as muitas caraterísticas da personalidade do candidato republicano a vice-presidente está a sua oposição à ajuda à Ucrânia – num partido que, nesta matéria, não está totalmente alinhado com Donald Trump.
Republican presidential candidate and former U.S. President Donald Trump gestures during a campaign rally on March 2 in Richmond, Virginia, U.S. March 2, 2024. REUTERS/Jay Paul
16 Julho 2024, 16h36

James David Vance, nascido em 1984, é o homem que terá por funções substituir Donald Trump em caso de necessidade – e no caso de o ex-presidente vencer as eleições de 5 de novembro próximo. Escritor e investidor – uma categoria onde não cabe quase mais ninguém a não ser talvez Mario Vargas Llosa, que também quis ser político (presidente do Peru) – Vance é senador pelo Ohio desde 2023 e o primeiro antigo fuzileiro naval a poder chegar ao cargo.

A sua obra descreve aquilo que pode chamar-se o fim do sonho americano – dissolvido debaixo das metástases da vida moderna, sem deus e sem sonhos, entre drogas, desemprego e falta de habitação, tudo envolvido no cinismo de Washington D.C.. Esta visão de catástrofe – comungada por Trump – não colocou o jovem escritor desde logo em rota de aproximação ao ex-presidente: em 2016, não apoiava a iniciativa presidencial do magnata do imobiliário e do jogo – possivelmente porque exatamente o jogo é uma das ‘doenças’ que explica o mundo desarticulado de que fala nos seus livros. Há oito anos, na véspera das eleições presidenciais de 2016, J.D. Vance era um crítico ferrenho de Donald Trump a quem publicamente comparou ao nazi Adolf Hitler, segundo recorda a Reuters. Mas, por qualquer razão, acabou por aderir à agende de Trump – como aconteceu aliás com a esmagadora maioria do Partido Republicano.

Conservador em termos sociais – é contra o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e muito próximo das propostas religiosas – é também um liberal no que diz respeito à economia. Mas pouco ortodoxo, ou mais à europeia que à americana: apoia aumentos para o salário mínimo, considera os sindicatos essenciais, não gosta de mega-empresas que funcionam em regime de trust.

E, tal como Trump, não é propriamente um adepto do auxílio norte-americano à Ucrânia. Depois de ser chamado à condição de candidato a vice-presidente dos Estados Unidos em funções a partir de 1 de janeiro de 2025, esta sua oposição foi imediatamente tratada pela imprensa norte-americana como uma ameaça à segurança da Europa.

A infância de Vance foi marcada pela pobreza e pelo abuso, A sua mãe lutou contra o vício das drogas e ele e a sua irmã Lindsey foram criados pelos avós maternos. Depois de se formar na Middletown High School (2003), alistou-se no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos – função que o fez viajar para o Iraque. Mais tarde, graduou-se na Ohio State University e frequentou a Yale Law School – acabando por optar por ser advogado independente.

No início de 2018, Vance considerou concorrer ao Senado contra o democrata Sherrod Brown, mas acabou por desistir. Se em 2021 acabaria por apresentar a sua primeira campanha para cargos públicos. Venceu as primárias republicanas e nas eleições gerais de 8 de novembro derrotou o candidato democrata Tim Ryan com 53%. Tornou-se no primeiro senador de Ohio sem experiência anterior no governo desde que o astronauta John Glenn assumiu o cargo em 1974.

Apontado como uma mistura de isolacionista com populismo económico – o que encaixa bem em Trump, o senador republicano John Barrasso, do Wyoming, a quem Vance descreveu como seu mentor, disse à Reuters que o candidato a vice mudou a sua visão sobre Trump porque “viu os sucessos que Trump como presidente trouxe ao país”. A sua oposição à ajuda à Ucrânia encantou os aliados mais conservadores de Trump, embora tenha incomodado alguns colegas do Senado. A sua escolha – no seio de um partido que não está totalmente alinhado nessa matéria – pode ter sido uma forma de aumentar a oposição ao apoio à Ucrânia, segundo afirmam analistas citados pela Reuters.

Antes de Vance desenvolver um relacionamento com o ex-presidente, aproximou-se do seu filho mais velho, Donald Trump Jr. Em causa a mesma coisa: a oposição à ajuda à Ucrânia.

 

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