Não se deveria diabolizar o Chega. É verdade que é irreverente, desestabilizador, radical em iniciativas e com pontos políticos controversos e inaceitáveis. É um partido novo na nossa democracia. Veio para singrar e quis fazer-se notar pela rutura do que há, de como o sistema se comporta.

O Chega veio abanar e essa estratégia está a permitir que se aproxime das eleições de 10 de março com um lugar no pódio dos partidos políticos. Um lugar consolidado por mais de meio milhão de eleitores.

Estes eleitores não são loucos, não são ignorantes, não são terroristas e muito menos inconscientes. Creio que estão a votar no Chega porque, não só estão cansados da forma como a política tem sido feita em Portugal, como não têm medo do crescimento do Chega. Estão revoltados com “o instalado”.

Ter mais de 15% dos votos é um enorme resultado e confere aos eleitores do Chega uma grande responsabilidade. Esta minha exposição pretende reforçar isso mesmo – responsabilidade. Porque o que semeamos, colheremos.

Votar em protesto não antecipa nada de bom. Está bem votar no Chega se se acredita na sua política, na sua liderança, na sua palavra, nos seus quadros, ainda que os políticos pareçam todos iguais. Agora, votar em modo protesto, com sentimento de zangado ou rezingão, não me soa nada bem.

O tempo do marketing acabou. O Chega fez muito marketing para crescer, e bem feito porque resultou, mas uma vez notado, acabou. Chegou a hora do concreto, do real, da capacidade para fazer o exequível e o saudável para Portugal.

Não diabolizo o Chega, mas fico assustado com os votos de protesto, raiva, ressentimento, pela má prática da política nacional. Um gesto carregado de negatividade é atrair mais negatividade para a nossa vida e talvez fosse sensato não “plantar essa semente”.

Parece que vivemos uma sensação de impotência face ao comportamento da política nacional e que o Chega representa um escape emocional, uma oportunidade de soltar o inconformismo. Apetece, é tentador, mas cuidado.

Eu próprio, que me considero moderado, sinto vontade de usar o voto como revolta, insatisfação. Mas como ficará a minha consciência no dia seguinte? Aprendi um dia que, em coisas sérias, quando duvidamos é porque não é para fazer. Ou se tem convicção, ou não se tem.

O Chega de André Ventura é como um vento que corre forte, sempre forte, e ninguém conseguiria viver todos os dias com essa ventania. Esses ventos são reais, surgem e fazem parte da natureza, mas podem fazer perder o equilíbrio se forem constantes.
Para Portugal, talvez seja melhor uma brisa, de seriedade e sensatez.

Já chega de falar do Chega como um “bicho-papão”. Urge prestar atenção ao que realmente importa – o que querem os partidos fazer por Portugal, em concreto?