Faz, por estes dias, dois anos que escrevi neste espaço de opinião sobre a excessiva exposição da banca portuguesa aos capitais estrangeiros e da importância de atingir um saudável equilíbrio entre o capital privado português, e consequentes centros de decisão, e o capital privado estrangeiro no que a este setor diz respeito.

Após um período de nacionalização da banca com o 25 de Abril, surgiram há 30 anos as privatizações e a liberalização do setor, que, como avaliação global e de forma geral, resultou no desaparecimento de muitas marcas e na concentração do negócio em poucas instituições. Acrescem ‘os perigos’ de uma excessiva exposição externa, que a banca privada estrangeira, atenta, aproveitou, mas nos seus países de origem os estados protegeram e não o permitiram.

Contudo, em Portugal, nos últimos cinco anos, curiosamente com um governo de frente esquerda, e com um PS de António Costa à frente, a questão agudizou-se. Basta lembrar a resolução do Banif em finais de 2015, a venda do capital do BPI a Espanha em 2016, a venda do Novo Banco a um fundo norte-americano, e do BCP junto de angolanos e chineses. E agora vem a questão da potencial venda de 95% do EuroBic a capitais venezuelanos de um novo grupo espanhol, o La Banca, que será mais um passo na perda de independência do setor financeiro português face ao exterior.

Portugal, em vez de proteger e tentar potenciar uma nova geração de banqueiros, seguindo a tendência de outros países e até por uma questão de soberania e independência nacional, opta por um laissez faire, laissez passer.

Para além do posicionamento geográfico da nossa Península Ibérica, que nos isola no território europeu, a consolidação do balanço do sistema financeiro português no sistema financeiro espanhol torna a economia nacional mais dependente dos destinos, vontades e motivações de Espanha. Será que Portugal e os empresários portugueses não têm idoneidade para ter bancos nacionais? Será que não há capital nacional para deter um pequeno banco português que se encontrava numa curva ascendente de rentabilidade a metade do preço? Qual a posição política do Governo e do regulador perante a aparente falta de capacidade da economia portuguesa para deter um pequeno banco? Ou consideram os portugueses pouco idôneos? Será que se prefere confiar nos critérios de idoneidade do Banco de Espanha a ter a uma opinião própria? Questões prementes que deveriam merecer resposta.

A contínua perda de soberania financeira nacional, aliada à contínua perda de ativos de capital para o exterior, levará Portugal necessariamente numa trajetória de empobrecimento. Como pode Portugal desenvolver as suas empresas e os seus projetos sem sistema financeiro próprio? Portugal não pode ser gerido como uma filial, em que o capital é aplicado no mercado mais rentável, e o apoio financeiro às empresas portuguesas não pode estar totalmente dependente de interesses empresariais internacionais.

Não quero com isto defender que a banca estrangeira não deve operar em Portugal, pelo contrário, é diversificada, estruturada, universal e concorrencial. No entanto, a ausência de capital privado português na banca nacional está a tornar-se num enorme problema nacional. E devia ser ao contrário, para bem da nossa economia, para bem de todos nós.

Estará Portugal consciente de que hoje a capacidade para os agentes económicos nacionais influenciarem a aplicação do capital nacional se encontra nas mãos de entidades estrangeiras, com centros de decisão no exterior – seja nas seguradoras, fundos de investimento ou banca? Onde está hoje um Tiago Violas Ferreira, ou os sucessores das famílias tradicionais com incursões no setor, como os Azevedos, Amorim, Melos, ou Champalimaud entre muitos outros empresários ou industriais que tanto esforço tiveram num passado recente, na tentativa de manter bancos independentes? Onde está essa nova geração de banqueiros?