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Jacinda Ardern, a chefe de governo que uniu um país na hora do luto

É a terceira mulher a liderar a Nova Zelândia e a chefe de Governo mais jovem dos últimos 150 anos. Após o atentado terrorista visitou a comunidade muçulmana de Christchurch com a cabeça coberta por um hijab.
  • Primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardren
6 Abril 2019, 12h00

Horas depois de o autor do maior atentado  de sempre na Nova Zelândia ter entrado em duas mesquitas na sexta-feira passada, fazendo pelo menos 50 mortos, Jacinda Ardern não perdeu tempo. Visitou a comunidade muçulmana de Christchurch, com a cabeça coberta por um hijab, o véu tradicional usado por muitas muçulmanas, e sublinhou que o país estava “unido no luto”. Kirk Hargreaves, fotógrafo que captou a imagem desalentada de Ardern, declarou ao jornal “Sydney Morning Herald” ter percebido de imediato que esta seria uma fotografia marcante. “É de certa forma uma foto religiosa, com uma mistura de simbolismo religioso. Parece um vitral, há o hijab muçulmano e há cores da religião hindu. É uma foto universal”, disse.

Pouco depois, a primeira-ministra da Nova Zelândia, de 38 anos, anunciaria que a reforma da lei de armas será divulgada dentro de dez dias, na sequência do ataque de um australiano supremacista branco a duas mesquitas. “Ele tentou muitas coisas com o seu ato de terror, uma delas foi notoriedade e é por isso que nunca me vão ouvir mencionar o seu nome”, disse a chefe do governo perante os deputados, repetindo a promessa aos jornalistas. “Ele obviamente tinha uma série de razões para cometer este atroz ataque terrorista. Elevar o seu perfil foi uma delas. E isso é algo que podemos negar-lhe”, acrescentou numa sessão extraordinária do Parlamento, a qual abriu com a expressão árabe “Salam aleikum” (”A paz esteja convosco”).

Filha de um polícia e de uma funcionária escolar, cresceu em Morrinsville e na pequena cidade de Murupara, numa região rural marcada pelo desemprego. Aos 17 anos aderiu aos trabalhistas, destacando-se rapidamente nas associações juvenis. Nascida em Hamilton, a 30 de julho de 1980, formou-se na Universidade de Waikato em 2001.

Em 2008, já formada em Comunicação, foi ganhando experiência política. Primeiro, no gabinete da então primeira-ministra Helen Clark; mais tarde, no Reino Unido, como assessora de Tony Blair. Em 2008 foi eleita presidente da União Internacional da Juventude Socialista, e membro do Parlamento da Nova Zelândia.

Aos 37 anos, chega à chefia do Governo depois de o seu partido ter ficado em segundo nas eleições. No entanto, com o apoio do New Zealand First (populistas de direita) e dos Verdes, conseguiu formar uma coligação que assegura a liderança. Durante a campanha eleitoral, prometeu combater a pobreza infantil, construir habitações sociais, melhorar a qualidade da água, reduzir a imigração e despenalizar o aborto. “Iremos trabalhar para garantir que a Nova Zelândia volte a ser  líder mundial, um país do qual nos possamos orgulhar”, disse.

Desde 1856, escreveu a BBC, que nenhum primeiro-ministro neozelandês era tão jovem. “Todos os dias são prova de que tenho o que é necessário para fazer isto. E eu já acreditava nisso quando aceitei liderar o partido”, disse Jacinda Ardern em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”. No ano seguinte, a primeira-ministra da Nova Zelândia faria história ao levar a sua filha de três meses, Neve, a uma sessão da Assembleia-geral da ONU, na sede, em Nova Iorque. Como tinha que discursar na Cimeira da Paz Nelson Mandela, foi a primeira vez que um bebé assistiu a uma assembleia das Nações Unidas.

É casada com Clarke Gayford, um apresentador de televisão, e foi ele que tirou licença a tempo inteiro para tratar da bebé quando Jacinda regressou ao trabalho. A primeira-ministra neozelandesa foi a segunda chefe do Governo a ser mãe em funções e regressou ao gabinete seis semanas depois – recorde-se que a primeira tinha sido Benazir Bhutto, primeira-ministra do Paquistão (assassinada em 2007), que deu à luz a filha Bakhtawar Bhutto Zardari em janeiro de 1990. Sobre a maternidade, a governante neozelandesa é clara: “A escolha do momento para ter filhos pertence às mulheres”.

Artigo publicado na edição nº 1981 de 22 de março do Jornal Económico

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