Recordo-me como se fosse hoje, aquele domingo à noite de outubro de 2012. A azáfama no aeroporto da Portela era grande, não estivessem os aviões com destino a Luanda e Maputo “à pinha” carregados de expatriados repletos de sonhos rumo ao desconhecido.
Levo comigo a última edição da revista “Monocle”, que dedica um número inteiro à Lusofonia e destaca o português como a nova língua do poder e dos negócios. A razão não é para menos, Brasil, Angola, Moçambique, vivem tempos de euforia e crescimento económico próximo dos dois dígitos. Também a advocacia mudou e adaptou-se a esta nova realidade e são cada vez mais os jovens advogados que, como eu, aceitaram o desafio e se mudaram de armas e bagagens para outro continente.
A quinta língua mais falada do mundo está na moda e assiste-se a uma nova diáspora lusa em busca do “El Dorado” onde o fervilhar nas ruas de Luanda, Maputo e São Paulo contrastam com a pasmaceira e a depressão de Lisboa, condicionada sob o espartilho da troika.
A chegada a Luanda não deixa ninguém indiferente. No aeroporto 4 de fevereiro instala-se a confusão, formam-se filas desordenadas de passageiros enquanto lá fora um amontoado de drivers agitam placas com as cores das grandes petrolíferas e vociferam apelidos estrangeiros indecifráveis.
Constato uma correlação direta entre o trânsito caótico de Luanda e o crescimento do PIB angolano, e entre este último e o preço do barril do petróleo nos mercados internacionais. Com o preço do barril a ressoar acima dos 100 USD, não admira que um trajeto, que em circunstâncias normais demoraria 10 minutos, tivesse levado hora e meia…
Voltaria mais vezes a Angola, mas o impacto da primeira viagem ficarão para sempre gravados na minha memória, assim como as paisagens, a gastronomia, a música e a cultura de um povo singular. Costumo dizer que Angola não se tolera, ou se adora ou se detesta.
Volvidos estes anos desde os tempos áureos da lusofonia muita coisa mudou. Angola mergulhou numa recessão da qual tarda em sair, o Brasil atravessa uma crise política e económica profundas, e Moçambique vive a ameaça do terrorismo no norte do país, só para citar alguns exemplos, que esta pandemia terrível agudizou.
Mas é também nas crises que surgem os ventos de mudança e, apesar da conjuntura desfavorável, nunca como hoje a Associação Internacional de Jovens Advogados de Língua Portuguesa (JALP) fez tanto sentido.
De Cabo Verde ao Brasil, de Angola a Moçambique, de São Tomé e Príncipe a Macau, da Guiné-Bissau a Timor-Leste, há inquestionavelmente algo que nos une e que vai muito para além da língua.
Evocar e promover esse património imaterial comum, é mais do que um dever, uma obrigação, não apenas enquanto advogados, mas também como cidadãos.
Há um otimismo latente naqueles que, como eu, trabalham e acreditam no potencial jurisdicional lusófono. Imune ao circunstancialismo do momento, queremos promover pontes e estreitar laços entre os diferentes intervenientes da comunidade jurídica, tendo como denominador comum a língua e a matriz jurídica portuguesas.
Sob a égide “proteger um novo futuro”, apostamos na diversidade e representatividade dos jovens advogados, incentivando a formação e a partilha de conhecimento sem esquecer a língua, a cultura e a responsabilidade social – pilares estruturantes e traves-mestras da organização. Queremos crescer, de forma sustentável e fiel aos valores que nos caracterizam e que servem de guia e inspiração. Contamos com todos!