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Japão é o país com mais população idosa no mundo. Portugal caminha na mesma direção

David E. Bloom, professor da Universidade de Harvard, onde ensina economia e demografia, esteve em Lisboa e abordou as tendências demográficas de Portugal e do mundo. O especialista explicou que o nosso país é dos que mais envelhece no mundo inteiro. Referiu que, em 2050, 33% da população nacional terá 65 ou mais anos de idade e que desde o novo milénio, houve portugueses que viveram mais de 110 anos.
  • David E. Bloom
    David E. Bloom
13 Fevereiro 2020, 08h07

É uma tendência global à qual Portugal não escapa: a população mundial está a envelhecer. Acontece que “a população portuguesa está a envelhecer de forma muito rápida para os standards internacionais”, referiu David E. Bloom, professor de economia e de demografia no departamento de Global Health and Population da Universidade de Harvard.

Pela idade mediana – o ponto que separa em duas partes iguais a população mais jovem da população mais velha – constata-se que Portugal já está a envelhecer mais depressa do que a população mundial e, até 2050, o ritmo vai acelerar-se.

“A idade mediana da população mundial subiu do ponto mais baixo, em 1970, de 22 anos, para 31 anos atualmente. Em 2050, as projeções apontam para que a idade mediana da população mundial chegue aos 36 anos”, explicou David E. Bloom.

“Em contraste, Portugal tem uma idade mediana de 46 anos e, até 2050, espera-se que alcance os 52 anos, o que é uma idade quatro anos mais velha do que a idade mediana do Japão atualmente, que é o país com a população mais envelhecida do mundo”, vincou.

“Só este facto é motivo para pararmos e pensar porque o Japão está a debater-se com as implicações económicas da envelhecimento da sua população”, alertou o especialista em demografia, que falava numa palestra no âmbito da estreia do “Ciclo de conferência 2020: Nós, Portugueses”, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e que se realizou esta quarta-feira, em Lisboa.

“No que diz respeito à porção de idosos na população, o Japão é atualmente o líder mundial, com 28% da sua população a ter, pelo menos, 65 anos de idade”, adiantou David E. Bloom.

Segundo as projeções apresentadas pelo professor de Harvard, em 2050 o número de portugueses com 65 anos ou mais ascenderam a 3,2 milhões de indivíduos, o que vai ser o equivalente a 33% da população portuguesa – atualmente, são 2,3 milhões de pessoas.

David E. Bloom notou que “3,2 milhões de pessoas é mais do que a população da Área Metropolitana de Lisboa”, prosseguindo que “desses 3,2 milhões de indivíduos com idades a partir dos 65 anos, 660 mil terão 85 ou mais anos de idade, ou seja, 7% da população portuguesa”. “É o dobro da porção que esta faixa etária tem na população portuguesa total aos dias de hoje”.

A longevidade também é uma “característica do futuro da demografia portuguesa” e o especialista explica que, desde o início deste século, Portugal já teve “uma dúzia” de indivíduos ‘super-centenários’, isto é, pessoas que vivem mais do que 110 anos.

“A pessoa mais velha de que há registo em Portugal foi a Maria de Jesus, que morreu em 2009, aos 115 anos e 140 dias. Quando morreu, era a pessoa mais velha do mundo”, contou à plateia.

Se a fertilidade não descesse, os seres humanos acabariam por pesar mais do que o planeta Terra

David E. Bloom deu alguns factos sobre as tendências demográficas a nível mundial, como o ritmo do crescimento da população.

“Foi preciso esperar por cerca de 99% da história da humanidade, até cerca do ano 1800, para que a população mundial atingisse mil milhões de pessoas. Mas, desde 1960, temos somado décadas sucessivas de crescimento, atingindo as seis mil milhões de pessoas no ano 2000 e com as projeções a apontarem que seremos dez mil milhões antes de 2060”.

A situação coloca desafios que a sociedade global nunca enfrentou, especialmente “sérios desafios em relação à satisfação das necessidades de uma população cada vez maior e à proteção ambiental”, alertou o professor de Harvard.

No tema ambiental, David E. Bloom vincou que a questão é “engrandecida” devido à maior concentração de pessoas que vivem em zonas urbanas, que representava um-terço da população mundial em 1950, tendo subido para 56% atualmente e que deverá representar 68% da população mundial em 2050, segundo as projeções.

No entanto, o crescimento da população mundial está em desaceleração. A taxa de crescimento anual era de 2% em 1960, tendo-se reduzido para metade disso atualmente, e espera-se que volte a contrair novamente para metade até ao ano 2050.

“Todos os demógrafos sabem que o pico da taxa de crescimento de 2% é sustentável e a matemática é clara como a água neste aspeto”, disse o especialista em demografia. E ilustrou: “se esta taxa de crescimento se mantivesse por 35 anos, a população mundial duplicaria. Por 700 anos, teríamos de multiplicar a população mundial por um factor de um milhão. E por 1.200 anos, o número de pessoas que ocuparia o planeta pesariam mais do que o próprio planeta. E, se a taxa de crescimento anual da população se mantivesse nos 2% durante seis mil anos, a massa da carne humana expandir-se-ia para fora do planeta à velocidade da luz”, frisou o professor de Harvard, para divertimento do público.

De forma mais séria, David E. Bloom salientou que “virtualmente, todo o crescimento da população deverá acontecer nos países de baixo e médio rendimento nas próximas décadas”, o que é um cenário alarmante e “um grande problema”. “São países que tendem a ser menos robustos do que os países com maiores rendimentos, dos pontos de vista político, social, económico e ecológico”, vincou.

O especialista deixou ainda mais três factos que deverão ocorrer se a tendência demográfica mundial atual não sofrer alterações. “Entre os dias de hoje e 2050, espera-se que o crescimento populacional seja negativo em 61 países que atualmente representam 29% da população mundial”. Nesse ano, daqui a três décadas, a Nigéria “ultrapassará os Estados Unidos e será o país mais populoso do mundo”. E, “durante esta década, a Índia vai ultrapassar a China e será o país com mais população nacional do mundo”, concluiu.

Não perca na edição impressa desta sexta-feira de O Jornal Económico a entrevista exclusiva com David E. Bloom.

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