Durante o mês de agosto, o jornal “Financial Times” publicou um artigo de Robin Wigglesworth onde aborda a problemática da japonização da economia europeia. A atual conjuntura de baixas taxas de juro está a arrastar a economia da zona euro para uma situação de refém da política monetária acomodatícia do Banco Central Europeu.
O termo “japonização” é usado para ilustrar os quase 30 anos em que a economia nipónica se debate para combater a deflação e o crescimento anémico, enquanto a política monetária distribui estímulos extraordinários, mas de eficácia reduzida.
Para os investidores de longo prazo, como os fundos de pensões e seguradoras, trata-se de um desafio difícil de suportar por muito tempo. A forte valorização do mercado acionista vai equilibrando as responsabilidades futuras. Contudo, a subida das ações assenta mais no aumento da procura, devido às baixas taxas de juro das obrigações e depósitos, do que nos resultados da atividade económica.
Para os bancos, que estão cada vez mais mergulhados em normas regulatórias no que respeita ao mercado de capitais, por oposição ao que se passa nos Estados Unidos, as taxas de juro negativas apresentam-se, também, como um enorme desafio. A dicotomia – regulação versus supervisão – é cada vez mais estreita na Europa. Um dia pouco haverá para supervisionar em matéria de mercados financeiros, pois a pesada regulação será dissuasora para a realização de negócios neste domínio.
A competitividade das empresas americanas, ou inglesas, acontece não só pela maior flexibilidade regulatória de que beneficiam, mas sobretudo pela enorme diferença de liberdade no acesso ao investidor final. Na Europa, colocou-se o investidor dentro de uma redoma de vidro. Nos Estados Unidos, o investidor permanece em liberdade, sob a atenta supervisão das entidades competentes que não proíbem o negócio, mas sancionam severamente os infratores quando a ética é beliscada.
Mário Draghi abordou esta diferença de competitividade na última reunião de setembro, em que o BCE voltou a descer os juros. Disse que as empresas europeias dependem muito mais do financiamento bancário para crescerem, quando comparadas com as congéneres norte-americanas.
Os estímulos dados pelo BCE à economia podem não estar ainda esgotados. No entanto, se os governos não encetarem uma política fiscal de aumento do investimento público para estimular a economia, poderemos acabar como o Japão, em que o banco central é um dos principais compradores de ações no mercado acionista japonês.