O presidente argentino, Javier Milei, iniciou uma transformação profunda na economia do país, desmantelando um complexo sistema de tarifas e regulamentações que, durante décadas, protegeu a produção nacional, encarecendo os produtos importados.
Segundo um artigo do Financial Times, estas novas medidas têm como objetivo combater a inflação e facilitar o acesso dos argentinos a bens internacionais.
O efeito já é visível: pela primeira vez, muitos argentinos podem fazer compras na Amazon com envio gratuito desde os Estados Unidos, enquanto os supermercados começam a disponibilizar produtos como o detergente Tide e atum do Equador, que eram praticamente inacessíveis até agora.
Milei reduziu drasticamente os impostos sobre uma vasta gama de produtos, desde fritadeiras até roupa, com a intenção de diminuir os preços e mitigar os efeitos da inflação, que ainda se situa em cerca de 2,4% ao mês.
Além disso, triplicou o limite anual para encomendas pessoais do estrangeiro para 3.000 dólares (2.887 euros), isentando os primeiros 400 dólares (385 euros) de impostos.
Estas reformas, juntamente com a eliminação de um imposto geral de 7,5% sobre importações e uma taxa de 30% sobre compras com cartões no exterior, mudaram radicalmente o acesso a bens num país onde os preços de muitos produtos são o dobro ou o triplo em comparação com outros mercados.
Contudo, estas mudanças geraram apreensão entre os fabricantes locais. De acordo com o Financial Times, setores como o têxtil e a eletrónica, que empregam quase 20% da força de trabalho, temem a concorrência internacional.
Pablo Yeramian, diretor da Norfabril, uma empresa têxtil, alertou para uma queda na procura e um aumento nos custos, que já o levaram a despedir 15% dos seus colaboradores. “Estamos a tentar aguentar, mas a perspectiva não é otimista”, afirmou.
As empresas nacionais criticam que as reformas se concentram em eliminar barreiras para os produtos estrangeiros, sem abordar os altos impostos e a rigidez do mercado de trabalho que dificultam a competitividade das indústrias locais.
Por outro lado, Milei defende a sua abordagem. Numa conferência empresarial, afirmou que o seu plano visa “desmantelar o sistema desastroso de substituição de importações” que, segundo ele, impôs à sociedade produtos caros e de qualidade inferior.
Embora estas reformas representem uma mudança histórica na política económica da Argentina, o seu sucesso dependerá da capacidade de equilibrar a abertura comercial com medidas que fortaleçam as empresas locais, evitando um colapso em setores chave.
Enquanto isso, a economia argentina permanece num dilema entre a promessa de preços mais baixos para os consumidores e o receio de uma perda significativa de emprego no setor manufatureiro.
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